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Por Gabriel Chalita Professor e escritor

Sebastiana é uma mulher de poucas palavras. Aprendeu que só se fala o necessário. Não gosta de opinar sobre a vida das pessoas, acha um desperdício de tempo e de energia. Gosta das suas coisas e dos seus amigos, ou melhor, dos seus amigos e das suas coisas. Não tem muitos amigos porque é da crença de que um amigo merece atenção especial. Se necessário, passa horas ouvindo alguma dor que incomoda um amigo seu. E, depois, diz o que deve ser dito, pensado, refletido.

Sebastiana acordou, tomou o café que ela mesma preparou e buscou na penteadeira a colinha que fez para levar até o colégio em que vota. São muitos cargos, muitos números diferentes, levar anotado facilita a vida, decide ela.

O voto de Sebastiana é dela. A escolha, ela não terceirizou. Ouviu comentários daqui e dali. Ficou surpresa com os xingamentos. Achou desnecessária a quantidade de brigas pessoais ou pelas redes novas que criaram para unir as pessoas.

Ouviu quem argumentava em favor desse ou daquele. Enquanto ouvia, dava desconto para as mentiras que falavam. Sebastiana nunca entendeu por que se busca história mentirosa para fazer com que a história que se quer contar pareça verdadeira. Na sua simplicidade, pensa que o melhor era só dizer o que se sabe. Uma amiga disse que essa história de colocar mentira no meio da verdade é a tal da fakenews ou da pós-verdade. Ela não compreendeu muito bem, mas sabe que a mentira não leva a lugar nenhum.

Na rua, em frente à casa em que mora, ouviu uma discussão em que um chamava o outro de burro por votar em um candidato que o outro não concordava. Ela apenas mexeu com a cabeça pensando que não é assim que se convence.

Para cada cargo, Sebastiana pesquisou do seu jeito. Ouviu o líder da sua Igreja pedindo que votasse em um. Ela gosta do seu líder, mas dá a ele o poder de ser apenas o seu líder religioso; no seu voto, manda ela. Ouviu um amigo do seu filho, que ela considera um filho, dizendo que o melhor era um outro candidato. Ouviu. Anotou. E pesquisou. Nem filho nem amigo de filho decide por ela.

Sebastiana ama o Brasil. Acha que há muita coisa errada, mas que há também muita coisa certa. Acompanha com desconfiança o que dizem as pessoas da imprensa. É difícil saber a verdade, reflete ela.

O filho de Sebastiana é professor de filosofia, o que lhe dá muito orgulho. Ela se lembra de uma vez em que ele estava conversando com o amigo sobre um filósofo que dizia que era preciso duvidar de tudo. Ela não se lembra mais do nome do filósofo, mas gosta do ensinamento.

O melhor é não ter radicalismos. Ser do contra e votar por ódio não é com ela. Ser a favor sem conhecer em quem se vai votar, também não.

O café de Sebastiana é simples, como tudo em sua vida. Nada de brigas nem de exageros. Viver é uma delícia, é essa a sua escolha.

Em quem Sebastiana vai votar? Em quem ela decidiu que será melhor para cuidar do país que ela ama.

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