João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIA - Divulgação
João Baptista Ferreira de Mello, coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio da Uerj e colunista do DIADivulgação
Por O Dia

Rio - Quem você vaiaria nos dias de hoje? Eu pergunto e me adianto em responder. Meus apupos indignados seriam dirigidos aos cidadãos que emporcalham o chão dos nossos caminhos no Rio de São Sebastião.

Por que jogam papéis de bala, guimba de cigarro, garrafas e toda a sorte de artefatos nos logradouros da cidade? Vaias merecem, também, aqueles que se comunicam em voz alta, os motoristas com suas buzinas e os idiotas que colocam seus aparelhos de som em decibéis acima do suportável. Mas, consideremos, a maioria, nesses tempos de ódios e amores exacerbados. Certamente, emitiriam seus apupos para políticos deste ou aquele partido. Isto está na ordem do dia.

Houve um tempo, mais exatamente nos anos 1960, no qual a vaia repercutia, intensamente, como manifestação de desagrado, em meio aos insultos ou assobios nos ginásios, auditórios, teatros e estádios.

Maria Raquel de Andrade foi eleita Miss Brasil 1965, no Maracanãzinho, recebendo estrepitosas vaias, por mais de 22 minutos após o encerramento de sua coroação frente à insatisfação de um Maracanãzinho lotado que preferia a candidata Marilena Oliveira Lima, de Mato Grosso.

Outra vaia digamos... consagradora foi dirigida à cantora Lucinha Lins quando venceu com Purpurina, de Jerônimo Jardim, o Festival da Canção nos idos de 1981. Antes, em 1966, Nana Caymmi foi vítima de vaias com 'Saveiros', de seu irmão Dori Caymmi e Nelson Motta.

Todos foram vaiados na Era dos Festivais. Vejam bem: jurados, cantores, músicos e assim por diante, de Marlene com o tango mineiro 'Navalha na Carne', de Fauzi Arap & Fototi, a Antônio Carlos Jobim & Chico Buarque, com a mais que perfeita 'Sabiá', preterida por conta da guarânia de protesto 'Caminhando ou Pra Não Dizer que não Falei de Flores', de Geraldo Vandré, no 3° Festival Internacional da Canção, de 1968.

As vaias desapontaram e abespinharam o francês Renaud Lavillenie, campeão mundial do salto com vara. "Em todos os campeonatos de que participei, mesmo naqueles em que era o atleta local que eu enfrentava, o público jamais me vaiou. Os Jogos Olímpicos têm uma influência enorme na carreira de um atleta, não acontecem todos os anos.

O público estragou a experiência olímpica dos saltadores com vara", sentenciou Lavillenie. A assistência "deu de ombros" consagrando Thiago Braz após saltar 6,03 metros, novo recorde olímpico, enquanto Lavillenie saltou 5,98 metros, conquistando a medalha de prata nos Jogos Olímpicos do Rio 2016.

E hoje, desencantado, quem você vaiaria? O panorama musical está cada vez mais decepcionante, colonizado, alienado e distante das nossas raízes.

Políticos, empresários e até mesmo intérpretes, atores, beldades continuam recebendo vaias. Mas, cá entre nós, convenhamos, quem você hoje vaiaria?

João Baptista Ferreira de Mello é coordenador dos Roteiros Geográficos do Rio/Uerj

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