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Por João Batista Damasceno Doutor em Ciência Política e juiz de Direito

Assisti no Teatro Sesc, do Centro, a peça 'Malala, a menina que queria ir à escola'. A peça conta a história de Malala Yousafzai, heroína do nosso tempo e mais jovem ganhadora do prêmio Nobel da Paz, conhecida principalmente pela defesa dos Direitos Humanos das mulheres e do acesso à educação em sua província natal, onde os talibãs locais impedem as jovens de estudar.

Ao longo da peça sentimos que o Afeganistão é aqui e que nossos talibãs também nos ameaçam. Crianças impedidas de estudar em razão de tiroteios, força pública que difunde o terror, necessidade de procurar abrigo durante as aulas e grupos armados se impondo pela força nos remetem ao que se vivencia em favelas brasileiras e nos faz sentir horror pela ameaça de difusão do ódio e da brutalidade.

O incômodo é crescente ao longo da peça. Mas, ao final quando mulheres brasileiras são lembradas por suas resistências, dentre as quais Marielle, o público é tomado de euforia e de sensação de que também podemos resistir à barbárie. O ativismo de Malala, que se tornou um movimento internacional, ganha expressão ao final da peça e em todos os rostos se vê emoção e esperança.

Por vezes a humanidade relaxa na construção da civilidade e surgem os que pretendem guiá-la rumo à barbárie. Isto talvez explique as crises que destruíram sociedade antigas. As sociedades podem se constituir com o que há de melhor em cada modelo. Mas, também podem se constituir com o pior de cada um deles.

Grandes civilizações foram exterminadas e delas restaram apenas fragmentos. De algumas, nem histórias. Da Mesopotâmia e da Babilônia, com seus jardins suspensos, pouco restou. Alguma coisa pode ser visitada em museus europeus. Do Egito temos as colossais pirâmides e fragmentos do que foi. Em Roma resta parte do Coliseu, alguns poucos monumentos e muita história escrita. Da América do Norte, Central e Peru temos os monumentos e grandes construções dos Astecas, Maias, Incas e de outros povos.

Depois da Idade Média, a Europa ressurgiu com o Renascimento e o Iluminismo que nos dá a racionalidade com a qual pretendemos nos construir. Mas, o século XX, o século dos horrores, conheceu também o fascismo e o nazismo, quando se testou o limite da desumanização.

No presente momento, o mundo vive entre optar pelo retorno à barbárie ou continuar tentando construir-se como lugar de afirmação dos valores que nos caracterizam como humanos e solidários, na busca da felicidade.

A peça que mostra o exemplo de Malala voltará em nova temporada ao Teatro Casa Grande. No cartaz diz que "falar sobre Malala é, antes de tudo, falar de amor. Amor ao conhecimento. Amor à liberdade. Amor à justiça. Amor às crianças. Amor à humanidade. Amor que transcende e transborda para o mundo". É disso de precisamos: dos valores de Malala. Ou, então retornaremos à barbárie. A opção é nossa!

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