Ruy Chaves, colunista do DIA - Divulgação
Ruy Chaves, colunista do DIADivulgação
Por Ruy Chaves Especialista em Educação

É verão, então, imprescindível lembrar que os padrões alimentares dos mosquitos brasileiros mudaram com a chegada dos portugueses em 1.500. O sangue novo trouxe grande excitação por seu gosto estranho, salgado, diferente do gosto de mandioca e de peixe das vítimas de muitos séculos, os que foram chamados de índios porque Cabral achou que tinha chegado à Terra de Vera Cruz, nas Índias.

Os mosquitos detestaram o fim do estoque de bacalhau, presunto e vinho verde: todos os sangues voltaram ao mesmo gosto, putz!

Com a família real em 1808, a mosquitada delirou. Além do cardápio farto garantido por gente de tipos sanguíneos variados como índios, escravos, portugueses e estrangeiros, além dos novos brasileiros mulatos, cafuzos, caboclos e mamelucos, nossos mosquitos adoraram o sangue azul da nobreza com suas perucas, sedas e brocados, gente gordinha, pele branquinha, cheiro azedo, que delícia!

Os mosquitos viviam o paraíso das nossas cidades, com esgoto a céu aberto, ruas imundas exalando urina e fezes, pântanos por toda parte reproduzindo esquadrilhas de novos mosquitos se incorporando ao banquete: que sede brutal!

Em 1903, Osvaldo Cruz, considerado inimigo do povo, derrotou os mosquitos do Rio de Janeiro, então uma das cidades mais sujas do mundo. Mais de 500 anos após a chegada de Cabral, sob a incompetência e a omissão de sempre, sem passarinhos, sapos e Osvaldos como ameaças, os mosquitos voltaram a distribuir febre amarela e malária e sua obra prima, o Aedes Aegypti, passou a nos dominar com seu sofisticado nível de profissionalização e de tecnologia: como um caça supersônico indetectável ao radar e armado até os dentes, o Aedes impõe-nos também a vergonha e as tragédias da dengue, da chikungunya e da microcefalia.

Como é impossível não ser possível que as coisas piorem, perdidos entre corrupção, recessão e desemprego, ouvimos o alerta mundial: não viajem para o Brasil! Mas, que fazer para proteger minha família e a sociedade?

Não crio mosquitos, combato possíveis focos, uso repelentes e raquetes eletrocutadoras que estalam ao privar mais um pequeno monstro de ameaçar o mundo, de beber nosso sangue e nos transmitir doenças.

E você, cria ou protege mosquitos? Continuaremos o Brasil curvado a Nossa Excelência, o Aedes? O comediante de saudosa memória diria: Fala Sério! Panta rei.

 

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