Por Ediel Ribeiro Jornalista e escritor

Todo início de ano, prometemos mudar. Mas, no final do ano, vimos que continuamos os mesmos. Só o que mudou foi o ano. Ainda somos os mesmos; só que mais velhos.

Mas um dia, você toma coragem e muda. Depois de fazer 50 anos, eu deixei um casamento de 23 anos e um emprego que não me realizava profissionalmente.

Deixar um mau relacionamento, iniciar um novo negócio, mudar uma crença, ser mais assertivo, são algumas das muitas coisas que as pessoas normalmente querem realizar, mas não realizam nunca, porque têm medo da mudança.

Evitamos essas coisas porque, de uma forma ou de outra, todas elas envolvem diferentes tipos de dor. Se você quer perder peso, tem que enfrentar a dor de privar-se dos alimentos de que você gosta.

Se quiser deixar um relacionamento, você tem que enfrentar o fantasma da solidão. Se você quer começar um novo negócio, você tem que enfrentar a possibilidade de não ter êxito.

O medo faz com que as pessoas prefiram sofrer numa "zona de conforto" do que arriscar uma mudança que pode lhe trazer a felicidade.

Quantas pessoas passam a vida fazendo o que não gostam, vivendo com quem não amam mais ou convivendo com um corpo que não lhe satisfaz pelo simples fato de não ter coragem para mudar.

Isto acontece, por que somos classificados por números. E damos importância a isso. Você vale o que tem no bolso - ou, em alguns casos, numa conta nas Ilhas Caymans. Você vale pelo carro que anda, pela bela casa que ostenta ou pelo emprego que tem - embora, muitas vezes, nada disso lhe traga a felicidade.

Porque a felicidade não está em nada disto. A felicidade tá no amor e no carinho que você dá e recebe - no final de cada dia - da sua esposa, dos seus filhos, do seu cão e na satisfação do trabalho que te completa.

Confúcio dizia: "Escolhe um trabalho de que gostes, e não terás que trabalhar nem um dia na tua vida".

Quando a idade chega e você percebe que passou a vida toda perseguindo o dinheiro, a vaidade e as aparências, você se torna uma pessoa triste, deprimida e melancólica e passa a viver pelos cantos reclamando de tudo e de todos e procurando culpados pela sua dor.

Não foi feliz por medo da mudança e agora, tudo o que tem é tempo para angustiar-se. Acredite, até a dor produz uma "zona de conforto".

Um jornalista, amigo meu, preso pela ditadura, disse que todos os dias o torturador entrava em sua cela, dizia meia duzia de ofensas morais, dava-lhe uns tapas - às vezes, um choque elétrico - e ia embora. Quando anunciavam que iam trocar o torturador ele se desesperava. Com o antigo, ele sabia a duração e a intensidade da dor.

O novo poderia ser pior.

É assim com um novo casamento, com a mudança de emprego ou, simplesmente, com a dieta vegetariana, por exemplo.

Pode ser pior. E, por medo do que pode ser pior, evitamos o melhor.

*Jornalista e escritor

 

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