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Arte: O Dia
Por O Dia

Rio - O Brasil viveu um momento histórico no dia 1° de janeiro de 2019: o discurso de uma primeira-dama em Língua Brasileira de Sinais (Libras) durante a cerimônia de posse do presidente eleito. Um marco, indubitavelmente.

Longe de ser resultado da bondade de um governo, o acontecimento visibiliza um movimento histórico de luta da comunidade surda brasileira por reconhecimento, direitos, igualdade e inclusão social.

Embora a Libras seja reconhecida como segunda língua oficial do Brasil e primeira língua da pessoa surda desde 2005, por meio do Decreto 5626 que regulamenta a Lei 10436/2002, sua presença em diferentes instituições e nos meios de comunicação é frágil ou inexistente.

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2017 (Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil) expôs algumas das dificuldades sobre o tema e conclamou a nos darmos conta de que, ao se falar em inclusão de surdos, não se trata apenas da presença ou ausência de uma língua.

Está-se em questão, sobretudo, a visibilização de uma cultura visual, a qual demanda modos e maneiras singulares de pensar estratégias, práticas e propostas inclusivas em âmbitos educacionais, comunicacionais, de saúde, lazer etc. Está-se em questão um ambiente social em Libras e em português que potencialize a constituição dos sujeitos e a construção/aquisição do conhecimento, além do acesso à informação e à cultura produzida e partilhada socialmente, através de diferentes veículos.

Assim, neste momento histórico, compete não calarmos nossas vozes e seguir cobrando: que a inclusão das pessoas surdas não fique no plano dos discursos. Se a sociedade se quer verdadeiramente inclusiva, a língua de sinais não dirá respeito só aos surdos, mas precisa estar presente, cada vez mais, em diferentes espaços sociais para surdos e ouvintes: escolas, museus, teatros, cinemas, televisão etc.

Inclusão se faz com reconhecimento e visibilidade, com políticas públicas afirmativas da língua e culturas surdas... A implementação da disciplina Libras na escola regular, o incentivo à formação de profissionais surdos em diferentes áreas e carreiras, a formação de professores bilíngues... Muitas demandas que a comunidade surda apresenta. Mas, vale lembrar o seu lema: "nada sobre nós, sem nós". É hora de aprendermos: não é pensar para os surdos; é aprender com eles!

Tiago Ribeiro é autor do livro 'Leitura e Escrita na Educação dos Surdos'

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