Aristóteles Drummond, colunista do DIA - Divulgação
Aristóteles Drummond, colunista do DIADivulgação
Por Aristóteles Drummond Jotrnalista

Rio - O brasileiro tem motivos de estar revoltado com esses anos intermináveis de escândalos atrás de escândalos, de tanta roubalheira, de tanta desilusão com homens públicos, de tanta impunidade. Mas este sentimento justificado não deve ofuscar as qualidades históricas de um povo cordial, tolerante, pacífico e generoso. Não podemos nos deixar vencer pelas mágoas, alimentar ódios, sentimentos de vingança.

Militante nas redes sociais, fico chocado com a virulência com que as pessoas se referem aos autores de malfeitos, sem distinção partidária ou ideológica. Isso certamente não é bom para as pessoas e muito menos para a sociedade como um todo.

Os homens públicos que erraram foram votados, exerceram mandatos, tiveram influência. Erraram muito, alguns levados por influências externas, outros por marcas de tempos duros. Não se trata de justificar, mas de entender. E, na minha opinião, principalmente de não apagar o lado positivo de suas atuações.

Não é honesto negar ao presidente Lula um esforço pela melhoria de vida de parte da população - o que me parece que nem conseguiu por uma série de equívocos, mas tentou. Infelizmente, deixou-se levar pela atração do dinheiro, o deslumbramento do poder e a adulação de uma corte de aproveitadores. É, hoje, um homem sofrido, com sentimentos negativos, revanchistas, mas teve seus bons anos. Merece mais pena do que ódio.

Outros escorregaram na leviandade das palavras, e mesmo sem ter algo de concreto de malfeitos, passaram a contar com forte animosidade da sociedade. É o caso do ex-senador e deputado eleito Aécio Neves, que cumpriu dois bons mandatos de governador de Minas, fez seu sucessor e, por causa de uma gravação, caiu em desgraça. E já pediu humildemente desculpas. É cruel o tratamento que vem recebendo de alguns setores, embora tenha tido o conforto de uma eleição em que se sentiu constrangido em pedir votos para não prejudicar companheiros. É um homem bom. E se errou, tem de pagar, mas sem este espírito de vingança.

Não se respeita mais nem a idade, para uma avaliação serena, como no caso de Paulo Maluf, perseguido por décadas, sofrendo centenas de processos e contestações e condenado uma única vez e em obra que qualquer engenheiro sabe ser muito especial pelas condições do terreno em que foi feita. E é um homem que nasceu rico, de pai e de mãe, que mora desde sempre na mesma casa.

O novo governo está reconstruindo o Brasil. Vamos melhorar nossos sentimentos em relação aos faltosos, aplicar penalidades que não sejam exageradas nem muito menos cruéis. É muito válido se optar pela prisão domiciliar, o pagamento de multas, a prestação de trabalhos comunitários. Quase todos certamente aprenderam e estão arrependidos.

Nada de impunidade, mas também nada de crueldade!

Aristóteles Drummond é jornalista

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