Por O Dia

Rio - Educar não é padronizar. Parece óbvio, mas na prática não é bem assim. A escola foi pensada como uma fábrica. No século XIX, numa sociedade que se estabelecia pelas influências da Revolução Industrial, a organização fabril serviu como modelo. A industrialização ditou os parâmetros para um ensino elitizado e padronizado. Ainda hoje o passado permanece.

Instituições educacionais de todos os níveis e modalidades, em plena era digital, mantêm raízes nos formatos da produção em série, em que se estabelece um arquétipo do aluno ideal. Meu amigo Roberto Calife, de Recife, enviou-me uma mensagem pelo celular. Descrevia as dificuldades do seu filho, que tem autismo, de adaptar-se às exigências do ENEM.

Parece que ainda não aprendemos a conviver com o diferente. Pelo menos, quando o assunto é inclusão, deveria ser levado em conta o esforço que muitos fazem diariamente para se enquadrarem às

normas, aos preceitos e aos modelos já institucionalizados de comportamento, de formas de pensar e de agir, mesmo diante da garantia por lei da igualdade de direitos. Não é anacrônico desejar que a sociedade atual conviva com as diferenças. Não podemos aceitar que prevaleçam estereótipos pedagógicos concebidos séculos atrás. Precisamos aprender a lidar com o pensamento divergente, com o comportamento incomum.

O divergente e o incomum não representam a materialização do “menos inteligente” ou do “despreparado”, mas a constatação da não adaptação dos sistemas de ensino àqueles que não se encaixam nos padrões

preestabelecidos. Sou professor há alguns anos. Aprendi que a escola transita muito bem no campo da aprendizagem, quando contempla, pelo menos, três atores fundamentais: o professor, o aluno e a família.

Essa configuração obtém bons resultados, porque se aproxima das necessidades de núcleos diferentes. Não se educa fora das carências humanas. A educação precisa ser forjada assim, não na homogeneização, mas na diversidade, pois a sensibilidade humana não segue padrões. Se formos inflexíveis, irredutíveis, perderemos a emoção de educar.

O Educador contemporâneo tem como ferramenta um olhar instrumentalizado e sensível. Instrumentalizado, porque não se ensina sem conhecimento.  Sensível, porque o conhecimento sozinho jamais será suficiente para tocar o coração do outro: será preciso ter, sobretudo, empatia e amor.

Eugênio Cunha é professor e jornalista

Você pode gostar
Comentários