Por O Dia

Rio - Conheci Nani em 1988, aqui no DIA, quando ele publicava a tira ‘Vereda Tropical’. A tira - atual, ainda hoje - satirizava a situação político-social do Brasil. Os personagens principais eram: Veizim, um velho índio amarelo de cabelos brancos; Turuna, um índio de pele alaranjada; e Fernandias, um personagem que é uma paródia de Fernão Dias.

Nani, Ernani Diniz Lucas, nasceu em 27 de fevereiro de 1951, em Esmeraldas (MG). Começou sua carreira em BH, em 1971, publicando charges em ‘O Diário’. Seu humor ferino e debochado chamou a atenção de um editor que o convidou para vir para o Rio de Janeiro para trabalhar em ‘O Jornal’.

Nani já era apaixonado pela cidade. Sonhava vir para o Rio e trabalhar no ‘Pasquim’, onde seus ídolos publicavam seus desenhos.

Ao chegar ao Rio, em 1973, conheceu Henfil. Cartunista e mineiro como ele. Henfil o mandou ir para a redação do ‘Pasquim’ e colar no Jaguar. “Jaguar sabe tudo”, disse.

A partir daí, ele chegava diariamente com 30, 40 cartuns, na redação do ‘Pasquim’. Jaguar, já de saco cheio, dizia: “Ô, Nani, pelo amor de Deus, eu não tenho como publicar tudo isso, são todos bons, senão vou publicar só os teus cartuns e não publico mais nada. Por que você não vai tomar umas cachaças?

Nani seguiu os conselhos do Jaguar e virou parceiro constante dos jornalistas Tarso de Castro, Sérgio Cabral e do próprio Jaguar, entre outros, pelos botecos da cidade.

Um dia, o fígado não resistiu e o cartunista foi internado no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, da UERJ, para um transplante. Depois de algum tempo na fila da Rio-Transplante, finalmente, recebeu um orgão novo, mas seu organismo rejeitou o órgão durante a cirurgia, deixando o artista em coma. A equipe de médicos retirou o fígado, e depois de mais duas tentativas, Nani, finalmente, recebeu um órgão compatível.

Em 1973, junto com seis outros artistas, criou ‘O Pingente’ jornal que teve vida curta.

No Rio, trabalhou no Jornal dos Sports, substituindo Henfil, que foi para os Estados Unidos se tratar da hemofilia. Foi também chargista do ‘Jornal da Globo’, ‘Última Hora’, ‘Diário de Notícias’, ‘Tribuna da Imprensa’, ‘O Cartoon’ e da ‘MAD’ brasileira.

Era muito amigo do Adail, outro genial cartunista. Numa das visitas que fez a Nani, Adail (espírita fervoroso) notou um cartum pendurado na parede com um Jesus Cristo crucificado. Adail achou aquilo uma heresia e desde então tentou de todas as formas converter o boêmio e ateu, Nani, ao espiritismo. Não conseguiu. Além de cartuns, charges, quadrinhos e textos para a TV , Nani adora escrever histórias de detetives. Ele é bom em tudo o que faz.

O cartunista é autor dos livros ‘Cachorro quente uivando para a lua’ e ‘A traça de A a Z” (livro que ensina as crianças a se familiarizar com o alfabeto), entre outros. Jaguar disse uma vez que ele e o Nani tem uma qualidade em comum: não sabem desenhar.

Discordo do mestre. Nani desenha muito e é o melhor cartunista em atividade no Brasil. Não bebe mais. Mas, ainda assim, é um prazer sentar com ele num boteco e ouvir sua histórias.

Ediel é cartunista e escritor

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