Rio - Nove meses de ansiedade, barriga crescendo, dificuldades, planos, expectativas. Será que virá perfeito, menina, menino? Dor do parto, nó na garganta, correria pra maternidade. Deu tudo certo, é menino! Cuidadosa, a mãe passa os olhos, examina, dedinho por dedinho. Lindo, perfeito!
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Aí vêm as cólicas, o choro, a febre, os dentinhos, noites e noites em claro. Como mama, cada vez está mais forte! A primeira camisa de time, a primeira bola e logo o moleque se encanta. Leva jeito e, claro, muita bronca pela paixão por aquele mágico objeto redondo...
Chegam a primeira chuteira, a primeira peneira, os primeiros sonhos. E são muitos! A bola já é a melhor amiga e conquista a família. O passe vira o atalho, o drible coloca a miséria na marca do pênalti, o gol é o sim do Flamengo! Que orgulho!
Pelas mãos do pai e da mãe, que tanto batalharam e que tantas fintas tiveram que dar no destino, aquele moleque chegou lá... ou quase lá. Tá no caminho, federado, já dorme até no clube!
Lugar seguro, de gente responsável, tem do bom e do melhor, é o mais querido do país. O único problema é a saudade, mas, de vez em quando, ele está lá nos braços dos pais!
De repente, o sonho é cinza. Aquele moleque bom de bola não vai virar craque, não vai calçar chuteiras, não vai acarinhar a bola, não vai voltar para casa. Aquele garoto não vai voar do ninho, não vai ganhar o mundo. Simplesmente não vai.
E o que dói demais é o descaso e a indiferença daqueles que deveriam zelar pelo sono e pelos sonhos do menino! Como os pais tantas e tantas vezes fizeram e que agora jamais vão dormir como antes, acordados pela implacável e eterna saudade, sentimento que arranca do peito o coração ainda pulsante, que parte a alma, que aprofunda a escuridão do luto... mais e mais, dia após dia, para sempre!
* Fernando Faria é editor do Ataque