opinião 9 março versão 3 - ARTE O DIA
opinião 9 março versão 3ARTE O DIA
Por O Dia

Celso Furtado, como economista da Cepal, fez dois grandes e importantes estudos sobre a Venezuela: um ao meio dos anos cinquenta e outro ao meio dos anos setenta.

Em ambos, destacava a posição privilegiada do nosso vizinho rico em petróleo para saltar a barreira do subdesenvolvimento, com uma política econômica que incentivasse ou criasse, com as receitas do óleo, o investimento em outras indústrias, e acabasse com o subsídio ao consumo dos ricos que resultava de uma taxa de câmbio sobrevalorizada que os permitia importar tudo, até alimentos.

Era uma questão eminentemente política que as oligarquias e ditaduras que se revezavam no poder não conseguiam, ou não podiam resolver.

Caracas foi a cidade mais desenvolvida e modernizada da América Latina, com um festival invejável dos melhores automóveis do mundo em suas ruas, dirigidos por pessoas que tinham o hábito de passar o fim de semana em Miami. Com dólar muito barato.

Nos morros em volta da cidade, morros altos, da Cordilheira, uma enorme população muito pobre e sem emprego vivia não se sabe como. Eu tive oportunidade de testemunhar esta visão sinistra nos anos oitenta; visão, aliás, que começava no aeroporto ao nível do mar e subia toda a encosta numa estrada excelente cercada desses favelões impressionantes.

Assim viveu a Venezuela por toda segunda metade do século XX, num revezamento dos dois partidos de elite, AD e Copei, estabelecido pelo Pacto de Punto Fijo nos anos setenta, depois das décadas de ditaduras na primeira metade. Lembro-me bem dos elogios àquele pacto, que livrava a Venezuela das ditaduras: nós da esquerda aplaudindo a Ação Democrática e os cristãos de Franco Montoro louvando os cristãos do Copei (grande Montoro!).

Só que a política dos ricos não mudou nada. até surgir um líder, militar, o Coronel Hugo Chávez, no final desses anos mil e novecentos, para fazer uma revolução e mudar, por fim, este esquema político imoral e antinacional.

É verdade que, em 1989, houve um gigantesco e violento protesto popular, dos maiores do mundo, o chamado Caracazo, dominado pela polícia mas realmente assustador para os guaidós de então. Que não mudaram nada, só procuraram reforçar a polícia.

Hugo Chávez foi eleito e reeleito pelo povo e, efetivamente, mudou a política econômico-social em favor dos mais humildes, com grandes e importantes resultados. E fez crescer, assim, uma forte oposição, das elites privilegiadas, apoiadas, obviamente, pelo governo americano. Tal qual ocorre no Brasil e em toda a América Latina.

A História foi cruel e Chávez morreu antes de terminar sua obra revolucionária… Maduro era uma espécie de substituto natural e foi eleito pelo povo. Todavia, era uma obra difícil e Maduro não é Chávez.

A forte aliança oposicionista elite venezuelana-CIA aproveitou a força do destino e se levantou. A força contrária do destino, além da morte de Chávez, incluiu a prisão de Lula e o governo CIA- elite no Brasil.

Eis a crise da Venezuela. Sobre ela, vale ler a entrevista luminosa de Celso Amorim no 'Valor', em 26 de fevereiro.

 

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