opinião 13 março 2019 - arte o dia
opinião 13 março 2019arte o dia
Por O Dia

Oficializada pela Organização das Nações Unidas em 1975, o 8 de março se apresentou, mais uma vez. em meio a tantas propagandas publicitárias que nos induzem a um consumismo simbólico sobre uma data, tradicionalmente marcada e engendrada na nossa sociedade global.

Uma pergunta paira no ar “E depois do 8 de março, o que somos? “E por trás de “tal” pergunta uma reflexão, como bem pontua Simone de Beauvoir: “Não se nasce mulher, torna-se mulher!”. Obviamente, “torna-se”, em um mundo machista e misógino... e cá do meu lado, de mulher preta, preciso ponderar “machista, misógino e racista”.

Mas a pergunta ainda paira no ar: “E depois do 8 de março, o que somos?”.

Não estou aqui querendo ligar o ‘rec’ do gravador para a mesma indagação ao longo das brevíssimas linhas que ainda tenho. Mas entre o ‘rec’ e o ‘play’, quero pontuar que existe um enorme abismo entre o 8 de março historicamente pautado como um dia de luta e resistência, com a data comercial que nos cega ao ponto de não conseguirmos evidenciar que tornar-se mulher entre uma sociedade, como o Brasil, onde os

índices de feminicídio, violência física, psicológica e patrimonial contra as mulheres ultrapassa mais de 50 casos só no inicio de 2019.

E puxando esse triste histórico, quero rememorar que no ano de 2018, a Central de Atendimento à Mulher — Ligue 180 registrou, em média, 586 denúncias mensais de tentativas de feminicídio, contra 229 registros no ano de 2017. E se me permitem aqui um adendo, se formos contabilizar todos os casos e denúncias feitas pelos diversos instrumentos, os índices serão ainda mais altos.

Daí, penso cá do meu canto que se ser mulher já é um desafio, tornar-se mulher é algo perigoso. Se não acredita está aqui uma frase que vai te fazer lembrar: “Marielle presente!”. E isso, nenhuma data comercial vai conseguir evidenciar.

E por falar em data, alguém aqui ainda se lembra da Cláudia? Ou alguém aqui sabe o nome daquela mulher teve seu rosto deformado após ser espancada por várias horas? Mas nessa hora a memória breve é acionada e rapidamente os corpos, que até então representavam um “ser mulher” dentro da nossa sociedade, se transformam em números estatísticos.

Nós existimos todos os dias, resistimos todos os dias, nos pulsamos todos os dias. Eu luto na luta para que o meu tornar-se mulher possa extrapolar os condicionamentos social, político e religioso que tentam nos impor. E para terminar, sempre em mente: Cláudias, Elaines, Marielles, presentes!.

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