Ricardo Cravo Albin - reprodução
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Por O Dia

Rio - O novo Reitor a que me refiro no título deste texto, todo ele mais um suspiro de melancolia do que um grito de protesto, será eleito na Universidade Federal do Rio de Janeiro. Três chapas estão sendo questionadas não só pelas propostas acadêmicas. Questionadas também, e muito, sobre como lidar com o Canecão, a internacionalmente celebrada casa de shows de Botafogo, fechada há quase dez anos pela UFRJ.

Amo minha Universidade, para mim a sempre saudosa Faculdade Nacional de Direito da Universidade do Brasil, plantada no casarão do Largo do Caco. E aonde passei cinco verdes anos de felicidade, e acumulei saberes com mestres do porte de Hermes Lima ou Santiago Dantas.

Quando se estabeleceu o debate entre a Universidade e o Canecão, confesso que boa parte de nós – intelectuais – ficou apreensiva.

Explico: o Canecão sempre foi a mais famosa (e necessária) casa de espetáculos do Brasil, que ocupou por 40 anos uma pequena parcela do enorme terreno da Universidade em Botafogo. Ao longo desse tempo o Canecão implementou a revolução do show no Brasil. E ainda escreveu boa parte da história da música e do teatro. Em resumo, passou a ser um ponto de identidade do Rio.

Os cariocas que amamos a cidade já vimos dezenas de cinemas e de teatros serem destruídos sem dó, nem piedade. Apenas pela sede da especulação imobiliária. Aliás, anos antes de ser fechado pela UFRJ, um projeto duvidosíssimo quis destruir o Canecão em 1994/95, que acabou por ser tombado por ser ponto essencial de referência do Rio. O tombamento pelo Inepac estadual decorreu do fato de um abaixo-assinado (que idealizei) ter-se tornado público ao receber assinaturas de gente do porte de Barbosa Lima Sobrinho, Chico Buarque, Oscar Niemeyer ou Bibi Ferreira, que, aliás, abriria a Casa em 1967. E também a fecharia com show emocionante em 2010.

A questão foi que a UFRJ, alegando que o Canecão pagava pouco, retomou-o. Mas - eis o desperdício - abandonou-o à própria sorte. Seria justo se não se observassem duas definições básicas: a primeira é que um ponto de referência – tombado exatamente pela ação contínua de shows nacionais e internacionais – deveria ser respeitado. Seria o mesmo que se destruir o Moulin Rouge ou o Carnegie Hall, por firulas administrativas. E a segunda é que uma Universidade nunca deveria disputar com empresários de shows. Mas sim chamá-los à mesa de negociação e redefinir valores. Jamais desativar um ponto de referência que por 40 anos assegurou palco – e emprego – aos artistas do Brasil.

Portanto, caberá ao novo Reitor definir se a casa de shows, hoje muitíssimo avariada, voltará a ser entregue a um novo empresário do ramo cultural.

Um espaço como o Canecão estará sempre na cabeça, e no sonho, de todos os artistas do Brasil.

Ricardo Cravo Albin é presidente do Instituto Cultural Cravo Albin

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