Aerial view of Buzi and the devastation caused by Cylone Idai. - MSF/Pablo Garrigos
Aerial view of Buzi and the devastation caused by Cylone Idai.MSF/Pablo Garrigos
Por O Dia

Rio - Quando a médica Raquel Baccarini utilizou, há exatamente um mês, este mesmo espaço para falar do trabalho de Médicos Sem Fronteiras em Beira (https://bit.ly/2JFULFT), ninguém imaginava que o drama vivido pela cidade moçambicana fosse se intensificar ainda mais e chamar a atenção do mundo, dando ao local uma notoriedade súbita e indesejada. MSF estava presente em Beira porque realiza atendimentos a pacientes com HIV avançado na cidade de 500 mil habitantes. Moçambique tem uma das maiores prevalências de pessoas com o vírus causador da Aids no mundo – estima-se que 13% da população de 15 a 49 anos seja portadora, e coinfecções de HIV e tuberculose causam 34 mil mortes ao ano. Na madrugada do dia 14 para o dia 15 deste mês, a já difícil situação adquiriu contornos catastróficos. O ciclone Idai golpeou com força imensa a cidade, deixando um rastro de mortes e destruição.

 

Duas semanas após a tragédia, ainda não foi possível ter uma dimensão exata das consequências da passagem da tempestade por Beira: 90% de suas construções foram afetadas, a maioria seriamente danificadas. Grande parte das casas perdeu o telhado, e não foram poupadas escolas, hospitais e centros de saúde, dificultando as condições de alojamento e atendimento para feridos e desabrigados. Até o final desta semana já haviam sido contabilizadas quase 500 mortes, e a expectativa era de que a cifra pudesse passar de mil à medida em que fossem acessadas áreas remotas dos arredores da cidade. Para responder a uma emergência destas proporções, Médicos Sem Fronteiras agiu rápido e colocou em marcha uma mobilização de recursos materiais e humanos tão grande quanto as imensas necessidades que seus profissionais observavam no terreno.

 

Tão logo o aeroporto de Beira voltou a operar, MSF enviou da capital, Maputo, suprimentos básicos de emergência e uma equipe para avaliar as necessidades de saúde. Seguiram-se envios de voos fretados que saíram da Europa carregados de suprimentos e equipamentos médicos. O trabalho nos armazéns de MSF não pára desde então, e mais voos devem chegar ao país nos próximos dias.

 

O contingente de profissionais também está sendo reforçado. Os funcionários que atuavam no atendimento aos pacientes de HIV foram deslocados ao esforço de emergência, equipes foram enviadas de diversas partes do mundo e mais profissionais locais estão sendo contratados.

 

Os brasileiros têm tido um papel muito importante neste esforço. São 15 profissionais com muita experiência, não apenas da área médica, mas também responsáveis por logística, administração, recursos humanos e água e saneamento. Junto com outras dezenas de profissionais de todo o mundo, eles trabalham para reestruturar o atendimento de saúde na cidade. Os desafios são imensos: há restrições no acesso a alimentos, água e cuidados médicos. Uma das tarefas urgentes é reparar ou reconstruir instalações de saúde danificadas, para poder receber os pacientes que não cessam em chegar. Há muitos casos de diarreia, infecções cutâneas e feridas infectadas e infecções das vias respiratórias.

 

A previsão é que aumentem os casos de malária. Na quarta-feira, foram divulgadas oficialmente pelo governo as primeiras cinco mortes causadas por cólera, uma consequência temida mas esperada das inundações.

 

Com as condições em Beira se agravando e a dimensão verdadeira da tragédia ainda não totalmente revelada, uma das poucas certezas é que a atuação de MSF ainda deve ser necessária por bastante tempo, e a organização está totalmente empenhada em cumprir sua missão.

 

Paulo Braga é coordenador de imprensa de MSF.

 

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