Geraldo Nogueira   - Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Geraldo Nogueira Daniel Castelo Branco / Agência O Dia
Por O Dia

Rio - A luz do conhecimento científico atual, na maioria dos municípios brasileiros está atrasada na aplicação das boas práticas e de políticas de inclusão social para pessoas com autismo. É preciso equilibrar as ações e difundir conhecimento para que haja uniformidade de desenvolvimento sobre o tema. Alguns municípios têm iniciado ações pontuais, enquanto outros desconhecem totalmente o assunto.

Segundo as novas projeções de pesquisas nos EUA, os dados apontam para um caso de autismo em cada 68 nascimentos. Já no Brasil, mesmo não existindo pesquisas sobre a incidência do autismo, é notório o seu crescimento em território brasileiro. Realidade que demonstra a necessidade de maior visibilidade para o segmento na instituição de políticas públicas para os grupos fragilizados. No entanto, mesmo diante da ausência de qualquer ação federal neste sentido, existem alguns casos em que pessoas com autismo conseguem se incluir socialmente, seja por esforço de seus familiares ou por ações isoladas de profissionais ou programas locais que vêm dando certo.

Recentemente, durante o evento, Cultura e Expressões, ocorrido na sede da OAB/RJ, tive a oportunidade de ouvir um jovem autista que, brilhantemente, vem dando palestras pelo Brasil, mostrando como é possível a autodeterminação e inclusão de uma pessoa com autismo clássico. Nicolas contou as dificuldades que teve de ultrapassar para conseguir uma inserção plena na sociedade. Durante sua palestra contou que quando era mais novo, lia as orientações nas portas antipânico - abaixe e empurre – e fazia interpretação literal, abaixava-se e empurrava a porta. Até que compreendeu que deveria baixar a barra-trinco da porta e empurrá-la. Também se lembrou de uma vez em que o professor passou-lhe um dever de casa, no qual deveria responder ao que estava em determinada página do livro de lições. Em casa ao abrir o livro na página indicada, encontrou uma frase do autor fazendo a seguinte consideração: “...estando disposto, responda as questões...”. Resultado, como não se sentia disposto naquele momento, Nicolas fechou o livro e não fez o dever.

Outro relato foi de uma participante do evento. Disse que por muito tempo em sua vida sentia-se incapaz, mas não queria que os outros percebessem essa incapacidade. Por vezes, fazia parecer que estava sempre muito atarefada, mas era uma forma de se defender. Até o dia em que decidiu lutar pelos seus objetivos, porque queria ter um emprego, casar-se e ter filhos. Finalmente lamentou que, como ela, muitas outras pessoas com síndrome de asperger, forma de autismo menos severa, só tenha a síndrome diagnosticada demasiado tarde, muitas já na fase adulta.

Inúmeras pessoas com autismo passam pelas mesmas dificuldades, principalmente na juventude, período em que se sentem estigmatizadas e isoladas dos colegas. Mais tarde, quando adultas, têm que mostrar sua capacidade de fazer coisas, mesmo que não as façam da mesma forma que as outras pessoas, sendo isso uma condição para se integrar no meio onde vivem. Portanto, para além dos procedimentos de reabilitação física, intelectual e psicossocial, precisamos de um plano nacional para o autismo que leve também em consideração a informação e a conscientização da sociedade.

Geraldo Nogueira é Subsecretário da Pessoa com Deficiência no Município do Rio de Janeiro

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