Ricardo Cravo Albin - reprodução
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Por O Dia
Rio - O Canecão acaba de voltar à pauta cultural do Rio. E ao noticiário.

Confesso que boa parte de intelectuais e zelosos pelo Rio sempre olhou com reserva o debate que se estabeleceu há quase 10 anos entre a UFRJ e a desativação prejudicial do Canecão. Explico: esta casa foi o mais famoso (e necessário) palco de espetáculos do Brasil. Que ocupou por 40 anos uma pequena parcela do enorme terreno da UFRJ em Botafogo. Ao longo desse tempo, o Canecão implementou não apenas a revolução do show no Brasil, como escreveu em seu palco toda a história da música popular. E até muito do teatro. Em resumo: passou a ser um “ponto de referência” do Rio.
Nós, cariocas que amamos a Cidade, já vimos dezenas de cinemas e de teatros serem destruídos, sem dó, nem piedade. Apenas pela sede da especulação imobiliária. Aliás, em 1999 um projeto (duvidoso) quis destruir o Canecão, que acabou por ser tombado por uma originalidade - ser um bem cultural do Rio, tão somente como ponto de referência e respaldo públicos. Não sem antes receber abaixo-assinado (redigido por mim) e liderado por gente do porte de Barbosa Lima, Chico Buarque, Oscar Niemeyer ou Bibi Ferreira.
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A questão é: a UFRJ, anunciou que só agora admite um outro Canecão como casa de show, através de uma PPP. O destombamento de agora, liderado pelo deputado Rodrigo Amorim, pode ser justo, desde que se observem dois contrapontos. O primeiro é que o espaço deve continuar a ser ponto de referência do Rio. Exatamente por isso foi tombado em 1999, ou seja, pela ação contínua de shows nacionais e internacionais – que o fez reconhecido em qualquer parte do mundo civilizado.
Destruir o Canecão seria o mesmo que se demolir o Moulin Rouge ou o Carnegie Hall, apenas por firulas administrativas. E a segunda é que uma Universidade não deve disputar ações comerciais, que cabem a empresários de shows. Mas sim – se for o caso e parece ser – chamá-los à mesa de negociação. O grave erro foi desativar por 10 anos um ponto inegável, repito, de referência afetiva e cultural, reconhecido por todos. Que ao longo de 40 anos assegurou palco – e emprego – aos artistas do Brasil.
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Ricardo Cravo Albin é jornalista e escritor