Luzia Lacerda - Arquivo Pessoal
Luzia LacerdaArquivo Pessoal
Por O Dia
Rio - Nessa última semana o Brasil foi palco de sentimentos de ódio oriundos de criação, índole, convivência e doença. Acho urgente discernirmos os acontecimentos. Existe uma grande diferença entre intolerância, discriminação, preconceito e criminalidade.

Os últimos acontecimentos, principalmente na Baixada Fluminense, na depredação de terreiros de Matrizes Africanas no meu entendimento mais de um crime foi cometido. Em sua maioria os zeladores de santo estão em uma faixa etária acima dos 60 anos. Essas pessoas são coagidas, maltratadas, humilhadas e em muitos casos são obrigadas a quebrar seus assentamentos (local onde estão seus orixás), e ainda quebrar os santos de seus filhos, os tornando, segundo eles, um depositário infiel. O que restam a eles? Só a fé. Isso não pode ser tratado como intolerância. Isso é crime. Cometido por bandidos. Com a pura intenção de intimidar, humilhar e possivelmente se apossar do espaço para revendê-lo.

Antes as casas de Matrizes Africanas eram atacadas porque diziam que eram frequentadas por bandidos, policiais banidos para “fechar” o corpo. Tornando a religião vitimizada por todo tipo de preconceito. Houve um tempo que as pessoas que frequentavam as casas de santo lavavam as roupas, mas jamais colocavam para secar em lugar visível para que os vizinhos não soubessem.

Hoje a repressão continua de uma forma diferente, aqueles “ditos” bandidos que a sociedade preconceituosa dizia frequentar as Casas de Santo, hoje se travestem de cristãos e atacam essas casas. Com uma única intenção. Usurpar, roubar, intimidar, criar pânico para se ter poder.

Não é A, B ou C de determinada religião que fez isso ou aquilo. É A que é bandido tentando expandir seu território. Sendo assim isso é um caso de polícia, poder público, ministério público.

Lendo algumas postagens começo a ver religiosos de religiões diferentes se agredindo por ser um caso tratado com mais importância que o outro. Na verdade, no caso de Matrizes Africanas sofrem-se duas vezes, em sua maioria, religiosamente e racialmente.

Mas se fizerem uma busca centenas de igrejas tem sido atacadas, principalmente durante as missas. Bandidos entram assaltam os fiéis que estão na missa e as sacristias também. Outros entram durante a noite, quebram tudo procurando dinheiro. Isso não é um caso de Intolerância Religiosa, mas sim um crime, assalto. Que se aproveitam da onda de casos de Intolerância para encobrir seus feitos.

Então você vai me dizer. Não existem casos de intolerância? Sim. E muitos.

Quando uma pessoa esta em algum lugar, fora de um espaço religioso e outras pessoas causam constrangimentos e agressões por conta de suas vestimentas ou qualquer objeto que os remetam a uma religião específica. Isso é Intolerância Religiosa.

Quando uma pessoa entra em uma Casa de Santo, Igreja, Sinagoga, Templo, Mesquita, ou qualquer outro espaço religioso e fala contra aquela religião e quebra os símbolos que as representa. Isso é Intolerância Religiosa.

Quando um empregador não aceita um candidato a vaga por sua religião, ou vestimenta que o ligue a um segmento religioso. Isso é Intolerância Religiosa.

Quando uma criança ou adolescente é proibido de assistir aulas ou frequentar a escola por sua vestimenta ou objeto que o ligue a um segmento religioso. Isso é Intolerância Religiosa.

Existem muitos, muitos casos de Intolerância Religiosa. Mas, nossa maior dificuldade era discernir esses casos. Felizmente foi criada a DECRADI (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância), pois cabe ao profissional a investigação e a punição.

O sofrimento é amplo. E posso dizer isso porque tenho uma relação diária com 23 segmentos religiosos distintos.

Cada religião sofre justamente com suas peculiaridades.

Aos algozes interessam a desunião, para que no caos eles cresçam.

As Casas de Matrizes Africanas estão em primeiro lugar nos casos de depredação e destruição. Seus seguidores são humilhados, discriminados e alijados de suas crenças.

Nesse momento quero fazer um convite a vocês. Não podemos permitir que a discórdia seja plantada entre as religiões. Ao contrário precisamos nos unir para ajudar o segmento que momentaneamente passar por esses horrores.

Sendo crime ou intolerância religiosa, as casas de matrizes africanas estão sendo destruídas e seus zeladores humilhados. Essa não é uma luta isolada. Eu acredito sempre no diálogo. Vamos montar uma corrente, independente da religião. Se você ver qualquer movimento estranho. Ouvir alguma conversa que possa sugerir um ato desse de vandalismo. Não se manifeste pessoalmente. Nunca se esqueça eles são bandidos.  Procure a DECRADI - Rua do Lavradio, 155 - Centro, Rio de Janeiro - Telefone: (21) 2333-3509. Sua identidade será mantida em sigilo e você não será obrigado a prestar queixa e nem depor.

E o mais importante. Os religiosos não podem se desentender entre si. Só a união nos levará a vitória. É na desunião que o inimigo cresce. E muitos tiram proveitos próprios.
Luzia Lacerda é jornalista e diretora responsável do Instituto EXPO RELIGIÃO
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