Júlio Bueno - Reprodução
Júlio BuenoReprodução
Por O Dia
Rio -  Interrompo a série que sugere uma agenda para o desenvolvimento do Estado para tratar, neste artigo, da privatização da BR. Julgo, sem qualquer viés ideológico, que os argumentos que levaram à pulverização do capital da empresa não levaram em consideração aspectos fundamentais do próximo passo, que será a redução da participação da Petrobras no refino.

A BR é consequência direta do monopólio. Observando o mercado de petróleo no mundo, vemos que não há petroleiras que tenham separado uma empresa de distribuição. Não existe a Exxon Distribuição ou a Shell Distribuição, isso só ocorre no Brasil. A BR foi implantada porque o monopólio ia até o refino. O mercado de distribuição, portanto, sempre foi competitivo, com atuação de empresas nacionais e internacionais.

A Petrobras sempre colocou todos os distribuidores em condições igualitárias. O folclore dizia que a BR era a “filha de professora”: se lucrava e ganhava mercado, era porque tinha as vantagens oferecidas pela Petrobras. Se fosse mal, a questão que se colocava era, “como pode, sendo filha da professora”?

A BR teve o seu capital aberto na década de 90 por uma questão financeira. Faltavam recursos para a Petrobras, estrangulada pelo controle de seus investimentos pelo Governo Federal, que era pressionado pelas metas fiscais. Abriu-se o capital como forma de obtenção de recursos para investimento.

O que se esquece, hoje, é que no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, que promoveu a abertura do setor de petróleo, o capital da BR foi fechado. Isso ocorreu porque, prevendo-se a venda de refinarias, seria necessária uma distribuidora que pertencesse totalmente à companhia.

Embora as margens de distribuição sejam muito pequenas, a venda do derivado é que permite realizar todo o lucro do refino e da produção de petróleo. Em um mercado competitivo faz todo o sentido ter, em ocasiões específicas, margens muito pequenas, e até negativas, na distribuição, para viabilizar as vendas, com lucro, dos demais elos da cadeia. Mas como explicar isso aos demais acionistas da distribuidora, no caso a BR?

O mesmo raciocínio, de uso de margens pequenas ou negativas, vale para ganhar mercados que podem ser estratégicos. Outra questão é que a distribuidora “pesquisa” o mercado, dando informações das tendências ao setor de refino. Por isso a distribuição é tão necessária em um mercado competitivo.

Olhando o futuro, onde se espera que haja vários agentes competindo, sendo a Petrobras estatal ou privada, não é difícil se supor que a companhia precise novamente de uma distribuidora para chamar de sua.  
Julio Bueno é engenheiro de Produção e ex-secretário de Estado de Fazenda