Rio - Nunca houve tanta imagem, e nunca nos faltou tanto horizonte. A maneira como a imagem é usada na comunicação de massa, é determinante no modo como percebemos o mundo. Somos atravessados por demasiada quantidade de informações visuais todos os dias, com apelo de consumo, entretenimento, formando opiniões. E devido a sua potência, pode ganhar o verniz de verdade absoluta.
O nosso olhar mudou, e segue em constante transformação. Não há mais tempo nem espaço para contemplação, algo se perdeu na qualidade do olhar e no campo das reflexões. Como se os filtros da pressa e da fugacidade, servissem de interface entre o observador e o mundo, distorcendo matizes e contornos em nossas percepções. Capazes de transver nosso entorno, capazes de apagar o próximo.
As relações familiares estão inseridas nesse contexto. E ruídos muito graves surgem nessa dinâmica, sobretudo em condições conflituosas, deixando marcas indeléveis nos filhos, figura central nesse embate e a mais prejudicada. A honesta e respeitosa aproximação de uma criança, na intenção de perscrutar seus anseios, medos e sonhos, exige um simples posicionamento, mas bastante representativo. É preciso curvar-se diante da essência das meninices, diante desse tempo que em muitos de nós se apagou. E a partir daí, avançar com respeito no sutil território da infância, mantendo em alerta a condição de escuta e contemplação ao que ela nos revela em suas variás formas de expressão. Essa atitude refere-se em sua metáfora, a uma curvatura ainda maior, interior. Uma utópica condição proposta, onde o ego e as imperiosas distrações dos dias, impedem de ser trazida à luz. Sob tal condição, com admiração por suas essências e individualidades, muitas histórias de vida ganhariam outras dimensões. O mundo se realocaria a reinventar nova ordem, onde escuta e entendimento seriam tônicas na relação com a infância, e com o amanhã.
Os pequenos-futuros estão nas ruas e casas, agarram-se a nós, observam-nos. Transitam com suas vozes inaudíveis, e presenças invisíveis... Seus corpos sinalizam um tempo que virá, um alento. E um alerta. Confiados à família e ao Estado, suas cartografias feitas de sonho e de alma, revelam um acordo ancestral, e que se projeta num futuro impensado. Representam um pacto com a vida, a ser cumprido com base na alteridade, na condição de ver e ser o próximo.
No livro “Gente que se Apaga”, através de poesia e sutilezas, o personagem Guilherme vê seu amigo de giz com algumas partes do corpo apagadas. E descobre que os pais do amigo, também feitos de giz, apagam-se mutuamente enquanto discutem, e que essa é a causa do paulatino desaparecimento do amigo. Guilherme fica perplexo: “Como alguém pode viver com tantos apagamentos?”.
Somos nossa melhor paisagem, carregamos muitos horizontes. O que falta para reensinar o olhar, fortificar e refazer as tecituras de relações com o outro, sobretudo com aqueles que nos são tão caros? O que falta para um reencontro com nossas infâncias, e com nós mesmos? Essas respostas não estão escritas. Nem apagadas.
O nosso olhar mudou, e segue em constante transformação. Não há mais tempo nem espaço para contemplação, algo se perdeu na qualidade do olhar e no campo das reflexões. Como se os filtros da pressa e da fugacidade, servissem de interface entre o observador e o mundo, distorcendo matizes e contornos em nossas percepções. Capazes de transver nosso entorno, capazes de apagar o próximo.
As relações familiares estão inseridas nesse contexto. E ruídos muito graves surgem nessa dinâmica, sobretudo em condições conflituosas, deixando marcas indeléveis nos filhos, figura central nesse embate e a mais prejudicada. A honesta e respeitosa aproximação de uma criança, na intenção de perscrutar seus anseios, medos e sonhos, exige um simples posicionamento, mas bastante representativo. É preciso curvar-se diante da essência das meninices, diante desse tempo que em muitos de nós se apagou. E a partir daí, avançar com respeito no sutil território da infância, mantendo em alerta a condição de escuta e contemplação ao que ela nos revela em suas variás formas de expressão. Essa atitude refere-se em sua metáfora, a uma curvatura ainda maior, interior. Uma utópica condição proposta, onde o ego e as imperiosas distrações dos dias, impedem de ser trazida à luz. Sob tal condição, com admiração por suas essências e individualidades, muitas histórias de vida ganhariam outras dimensões. O mundo se realocaria a reinventar nova ordem, onde escuta e entendimento seriam tônicas na relação com a infância, e com o amanhã.
Os pequenos-futuros estão nas ruas e casas, agarram-se a nós, observam-nos. Transitam com suas vozes inaudíveis, e presenças invisíveis... Seus corpos sinalizam um tempo que virá, um alento. E um alerta. Confiados à família e ao Estado, suas cartografias feitas de sonho e de alma, revelam um acordo ancestral, e que se projeta num futuro impensado. Representam um pacto com a vida, a ser cumprido com base na alteridade, na condição de ver e ser o próximo.
No livro “Gente que se Apaga”, através de poesia e sutilezas, o personagem Guilherme vê seu amigo de giz com algumas partes do corpo apagadas. E descobre que os pais do amigo, também feitos de giz, apagam-se mutuamente enquanto discutem, e que essa é a causa do paulatino desaparecimento do amigo. Guilherme fica perplexo: “Como alguém pode viver com tantos apagamentos?”.
Somos nossa melhor paisagem, carregamos muitos horizontes. O que falta para reensinar o olhar, fortificar e refazer as tecituras de relações com o outro, sobretudo com aqueles que nos são tão caros? O que falta para um reencontro com nossas infâncias, e com nós mesmos? Essas respostas não estão escritas. Nem apagadas.
Alan Minas é escritor, diretor e roteirista
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