Rio - Conheci Claudia, em Salvador. O sorriso chegou antes de qualquer consideração. Estava com alguns amigos em seu táxi. Claudia disse sobre liberdades e sobre os dias que ela sonhava com o nome de futuro. Claudia leva o Brasil no sobrenome. Claudia Brasileiro.
A paisagem que o caminho apresentava a incentivava a falar de sua terra. A Bahia de todos os santos. De todas as dores. Da alegria. Falou da filha que, há pouco, se formara na universidade. Falou do que falta para sermos livres. Educação. Enquanto via crianças que se ajeitavam para fazer algum pedido perto do carro que aguardava o sinal, repetia: “Educação. Tivessem essas crianças a oportunidade de exercitar o cérebro, teriam um lindo futuro”.
Fiquei feliz ao ver sua reação, quando ela perguntou minha profissão. Disse estar honrada em conduzir um professor. Disse que gostaria de ter sido professora. É quem carimba os passaportes para o futuro.
Nos seus silêncios, havia contemplações. E, depois, explicações. Não se cansava do horizonte. O mar e seus mistérios. E sua grandeza. Somos grandes, também. E frágeis. E, se não nos cuidarmos, nos perdemos no caminho.
Voltou ao exercício do cérebro. Gostei de sua opinião. Cérebros que não se exercitam desperdiçam amplitudes. Ficam menores. Perdem tempo com pequenezas.
Não gosta ela do rumo que o país está tomando. É pena que os ódios estejam na sala principal. Estamos perdendo a liberdade. Há olhos errados decidindo sobre a nossa cultura, sobre a nossa educação, sobre a abundante vida que mora em nossa natureza. Os tempos de ontem foram melhores para a nossa independência.
Perguntou se eu gostava do Nordeste. Respondi sem titubear. “O Nordeste é fascinante. Cada estado. Cada gente nordestina. Cada cheiro de alegria e criatividade. Desfilei a falar dos poetas da Bahia, dos escritores que ganharam o mundo com suas narrativas do cotidiano”. Ela gostou. Fui adiante. Falei da música. Da criatividade. E aproveitei para usar o conceito do exercício do cérebro.
Claudia Brasileiro entende de Brasil. Nas conversas de pessoas que conduz, observa e, quando permitida, opina. Foi o que me disse. Gosta da conversa porque gosta de gente. E aproveita o que faz para fazer a sua parte na parte do Brasil em que vive. Está triste pelos ódios e pelos riscos à liberdade; está feliz porque acredita na sobrevivência do amor. Ama sua filha. Ama seu país.
Diz sobre os que chegaram à Bahia e se encantaram com a nova terra. Tudo começou por aqui. Os sonhos de grandezas e a perversidade. Os índios sofreram e também os negros e também os pobres. O açoite adormeceu muita história. Evoluímos. Nossa independência não se deu por um dia apenas, por um grito, por uma decisão. Nossa independência se constrói no colorido das nossas diferenças. No dançar coletivo. No subir e descer as ladeiras sem medo de capatazes de ontem ou de hoje. Nas composições diversas nascidas de diversos cérebros que aprenderam a importância dos exercícios. Ninguém pode ser deixado para trás.
Novamente, vemos crianças. Novamente, fala ela da educação. E prossegue ensinando. “Alguns dizem que é preciso matar; alguns, para servir de exemplo, que é assim que se combate a violência. Que é preciso dar segurança aos homens de bem. Estão errados”, decide ela. Ódio gera ódio. E, em meio a um sorriso que ilumina a Bahia e o resto do mundo, ela solta mais um elogio. “Que honra conduzir um professor”.
Chegamos ao destino. Agradeci a aula. Sorriu ela encabulada. As aulas não acontecem apenas nas classes das escolas. Exerce Claudia o seu magistério conduzindo gentes. E o exerce com dignidade.
Olhei-me no espelho, no quarto do hotel, e falei para mim, para o meu cérebro, para o meu coração, aliviando os cansaços dos dias em que falta sol: “Que bom que escolhi este ofício, professor, profissão esperança”.
Ainda ontem falamos da independência. Sei que ainda falta muito. O Brasil é muitos. E há muitos que aguardam compreensão. Mas há algumas Claudias, por aí, nos provando que o compositor que diz que Deus é brasileiro, brincou, mas não errou. Que bom que nasci aqui. Terra fértil para semeaduras. As pragas vêm e vão. O que é bom há de permanecer.
A paisagem que o caminho apresentava a incentivava a falar de sua terra. A Bahia de todos os santos. De todas as dores. Da alegria. Falou da filha que, há pouco, se formara na universidade. Falou do que falta para sermos livres. Educação. Enquanto via crianças que se ajeitavam para fazer algum pedido perto do carro que aguardava o sinal, repetia: “Educação. Tivessem essas crianças a oportunidade de exercitar o cérebro, teriam um lindo futuro”.
Fiquei feliz ao ver sua reação, quando ela perguntou minha profissão. Disse estar honrada em conduzir um professor. Disse que gostaria de ter sido professora. É quem carimba os passaportes para o futuro.
Nos seus silêncios, havia contemplações. E, depois, explicações. Não se cansava do horizonte. O mar e seus mistérios. E sua grandeza. Somos grandes, também. E frágeis. E, se não nos cuidarmos, nos perdemos no caminho.
Voltou ao exercício do cérebro. Gostei de sua opinião. Cérebros que não se exercitam desperdiçam amplitudes. Ficam menores. Perdem tempo com pequenezas.
Não gosta ela do rumo que o país está tomando. É pena que os ódios estejam na sala principal. Estamos perdendo a liberdade. Há olhos errados decidindo sobre a nossa cultura, sobre a nossa educação, sobre a abundante vida que mora em nossa natureza. Os tempos de ontem foram melhores para a nossa independência.
Perguntou se eu gostava do Nordeste. Respondi sem titubear. “O Nordeste é fascinante. Cada estado. Cada gente nordestina. Cada cheiro de alegria e criatividade. Desfilei a falar dos poetas da Bahia, dos escritores que ganharam o mundo com suas narrativas do cotidiano”. Ela gostou. Fui adiante. Falei da música. Da criatividade. E aproveitei para usar o conceito do exercício do cérebro.
Claudia Brasileiro entende de Brasil. Nas conversas de pessoas que conduz, observa e, quando permitida, opina. Foi o que me disse. Gosta da conversa porque gosta de gente. E aproveita o que faz para fazer a sua parte na parte do Brasil em que vive. Está triste pelos ódios e pelos riscos à liberdade; está feliz porque acredita na sobrevivência do amor. Ama sua filha. Ama seu país.
Diz sobre os que chegaram à Bahia e se encantaram com a nova terra. Tudo começou por aqui. Os sonhos de grandezas e a perversidade. Os índios sofreram e também os negros e também os pobres. O açoite adormeceu muita história. Evoluímos. Nossa independência não se deu por um dia apenas, por um grito, por uma decisão. Nossa independência se constrói no colorido das nossas diferenças. No dançar coletivo. No subir e descer as ladeiras sem medo de capatazes de ontem ou de hoje. Nas composições diversas nascidas de diversos cérebros que aprenderam a importância dos exercícios. Ninguém pode ser deixado para trás.
Novamente, vemos crianças. Novamente, fala ela da educação. E prossegue ensinando. “Alguns dizem que é preciso matar; alguns, para servir de exemplo, que é assim que se combate a violência. Que é preciso dar segurança aos homens de bem. Estão errados”, decide ela. Ódio gera ódio. E, em meio a um sorriso que ilumina a Bahia e o resto do mundo, ela solta mais um elogio. “Que honra conduzir um professor”.
Chegamos ao destino. Agradeci a aula. Sorriu ela encabulada. As aulas não acontecem apenas nas classes das escolas. Exerce Claudia o seu magistério conduzindo gentes. E o exerce com dignidade.
Olhei-me no espelho, no quarto do hotel, e falei para mim, para o meu cérebro, para o meu coração, aliviando os cansaços dos dias em que falta sol: “Que bom que escolhi este ofício, professor, profissão esperança”.
Ainda ontem falamos da independência. Sei que ainda falta muito. O Brasil é muitos. E há muitos que aguardam compreensão. Mas há algumas Claudias, por aí, nos provando que o compositor que diz que Deus é brasileiro, brincou, mas não errou. Que bom que nasci aqui. Terra fértil para semeaduras. As pragas vêm e vão. O que é bom há de permanecer.
Gabriel Chalita é professor e escritor
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