A fã que subiu ao palco durante o show protagonizou momentos românticos, com direito a beijo e palavras trocadas ao pé do ouvido da moça. Tudo normal para quem já conhece o perfil e histórico do galã norte-americano. A fã se despediu e, ao sair do palco, foi questionada pelos curiosos que desejavam saber, entre outras coisas, o que o astro havia cochichado.
A garota, ainda bem emocionada, respondeu com muita sinceridade que não havia entendido nada porque seu inglês não é bom. Uma declaração razoável de quem tratou com sinceridade a falta de conhecimento em outro idioma. Tudo teria transcorrido normalmente se essa declaração não tivesse gerado uma quantidade sem fim de críticas nas redes sociais. O motivo? O fato de a moça não ter o domínio de uma outra língua.
Uma reflexão se faz necessária. Por que a garota era obrigada a falar inglês perfeito? Por que essa mesma garota está sendo exposta ao ridículo simplesmente por não falar inglês? As pessoas são melhores do que as outras pelo simples fato de falar bem outro idioma?
No meu papel de linguista, me vejo na obrigação de lembrar a todos que o inglês não é um fator que separa as pessoas boas ou ruins. O inglês pode ser um diferencial, mas entenda que falar ou não falar é eletivo, uma escolha.
Vivemos em um período em que muitos preconceitos estão sendo radicalmente combatidos. Preconceito com cor, credo, religião e gênero estão sendo expurgados. Alguns até que tardiamente. Ainda que distante e menos criminoso, o preconceito sofrido por essa moça expõe o quanto vivemos em uma sociedade que ridiculariza questões mínimas.
A língua é um instrumento precioso de unificação. Se comunicar de forma livre, respeitando suas individualidades e características, ajuda a construir pontes que unem povos e estreitam relações. O ideal é que o simples ato de falar esteja impregnado do seu desejo verdadeiro de entender e se fazer compreender. E isso não depende da perfeição. Quando o preconceito não segrega, a comunicação acontece livre e sem neuras.
Jorge Henrique é especialista em Linguística e fundador do curso online Inglês Sem Neura