Por Rodrigo Abel*
Ainda que todos analistas estejam, por ora, recalibrando suas opiniões sobre o impacto da saída do ex presidente Lula da cadeia, uma certeza parece ser inconteste: a conjuntura brasileira mudou radicalmente.

Se até aqui o jogo político nacional estava sendo jogado praticamente entre iguais - direita conservadora e liberais de centro, com uma ou outra diferença no campo comportamental, mas com muita unidade na agenda econômica; a saída de Lula da carceragem da Polícia Federal em Curitiba é uma abrupta mudança na já complexa conjuntura política nacional.

Olhando de forma cartesiana, o caminho mais fácil para os conservadores e liberais, diante desta nova conjuntura, seria o de uma recomposição imediata, já manifestada e desejada pelo presidente Jair Bolsonaro em sua conta no twitter logo após a liberdade do ex presidente Lula. Este caminho, porém, possui inúmeros obstáculos, os quais foram construídos caprichosamente pelo próprio presidente e seu círculo mais próximo ao longo destes 11 meses de governo. A desconfiança é o imperativo desta relação e transpor este ambiente de guerra fria, não será uma tarefa fácil, mesmo com muita boa vontade de todos.

Ao certo, este possível realinhamento está longe de se dar a partir do protagonimo do presidente Jair Bolsonaro. O único nome capaz de impor esta unidade se chama “mercado”. O mesmo mercado que embarcou no impeachment de Dilma e na eleição de Bolsonaro quando viu o barco de Geraldo Alckmin naufragar. Certas ou erradas - somente o tempo dirá, as reformas da previdência e o pacotão de PEC’s do ministro Paulo Guedes, se tratam do maior avanço das pautas da “banca” em toda nossa história republicana. Perder essa oportunidade de ouro, logo agora, não me parece estar na “timeline” das elites econômicas do país.

Por outro lado, se centro liberal topar fechar o nariz e caminhar ao lado de Jair Bolsonaro - o que seria óbvio, em suas reformas e na crescente polarização, suas chances eleitorais para 2022 encerram-se por aqui. Na agenda da polarização, no nós x eles, não há centro, somente extremos. E o centro liberal democrático sabe que a polarização da sociedade implica, sobretudo, na perda da capacidade de resistir ao autoritarismo. É pagar pra ver.

Portanto, fica cada vez mais claro que os próximos movimentos políticos do ex presidente Lula estarão indexados diretamente ao que o centro liberal irá fazer daqui para diante. Se forem parar no colo do presidente Jair Bolsonaro, não restará outra alternativa ao ex presciente a não ser amplificar ainda mais nossas polarizações. Aí, o Chile de hoje poderá ser realmente o Brasil de amanhã.

Caso o centro democrático busque o seu próprio caminho, sublinhando com nitidez suas posições sobre as reformas, colocando ainda freio na escalada autoritária que parece teimar em ressurgir em nosso país, poderemos, aí sim, acalmar os ânimos e, possivelmente, tirar o país dos corner’s - extremos. Para isto, o centro liberal terá de tomar uma decisão agora, não amanhã: se expor claramente enquanto projeto político para 2022.

Para um bom entendedor basta: a bola está com Rodrigo Maia, David Alcolumbre, Luciano Huck e cia.
 
Publicidade
*Rodrigo Abel é Cientista Político.