Por Júlio Furtado*
A nação rubro-negra está em festa. O Flamengo sagrou-se campeão da Libertadores da América. A mobilização dos torcedores foi um verdadeiro exemplo do que a paixão é capaz de fazer. A paixão une pessoas, além de fazê-las superar o mais improvável obstáculo. Os que puderam, foram à Lima, no Peru, mesmo que de ônibus, levando 5 dias de viagem. Entre os que aqui ficaram, muitos foram ao Maracanã assistir ao jogo em telões só para manter a energia de torcer juntos num estádio de futebol. Confesso que, embora tricolor, torci bastante pelo título rubro-negro, não apenas por ser o representante brasileiro, mas contagiado pela paixão de seus torcedores.
É impressionante o poder que uma paixão tem de impulsionar ações e mobilizar sentidos. É assim no futebol, no carnaval e nos romances. Tudo o que fazemos precisa ter algum aspecto apaixonante, sob pena de se tornar rotina automatizada. Quem automatiza a vida não a vê passar e, de repente, surpreende-se na velhice.
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Na infância e na adolescência temos o poder natural de agir apaixonadamente. Esse poder, infelizmente, vai sendo perdido com o passar dos anos à medida em que a realidade vai se apresentando de forma cada vez mais contundente. Na escola, em geral, o momento mais apaixonante é a hora do recreio. O filho adolescente de uma amiga recusou-se a mudar de escola, mesmo após ter dito a mãe que não gostava de nenhuma das aulas que tinha, alegando que valia a pena suportá-las pelo quanto gostava dos amigos e dos momentos que passavam juntos. A paixão pelos amigos o fez suportar a falta de paixão pelos estudos.
A paixão por aprender pode ser despertada de várias formas. Quase todas elas, porém, passam pela construção de sentido com relação ao que se aprende. O cérebro precisa mobilizar interesse e criar expectativa positiva sobre o conhecimento e isso é tarefa da escola através da ação do professor. Podemos dizer que a escola vive hoje uma crise de sentido que se reflete na qualidade das aulas e na postura dos professores.
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São raras as vezes em que a escola consegue promover a paixão pelo ato de aprender, mesmo lidando com um público que se apaixona tão fácil. Isso é muito preocupante porque o ato de aprender carrega em si a necessidade de persistir, “suar a mente”, o que em geral precisa de uma causa apaixonante para ser suportada, como andar 5 dias de ônibus para assistir à final da Libertadores, por exemplo.
 
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*Júlio Furtado é Mestre em Educação.