Por Peck Mecenas*
Uma cena memorável, digna de cidade bonita por natureza. Na tarde de 12 de julho, Jorge Benjor fazia a passagem de som na Marina da Glória, horas antes de se apresentar no Festival de Inverno Rio 2019. Ele e banda ensaiavam em um pavilhão de frente para a Baía de Guanabara e o Pão de Açúcar. A vista era de encher os olhos. Diante da paisagem encantadora, o grande artista não conseguia parar de tocar. Acabou passando o show inteiro antes de subir ao palco naquela noite, com Zeca Pagodinho e D2.
O cenário não encantou apenas Benjor. Mais de 30 mil pessoas estiveram na terceira edição do Festival de Inverno, que trouxe nomes como Nando Reis, Raimundos, Barão Vermelho, Biquíni Cavadão, Marília Mendonça e Ferrugem. O evento aqueceu o inverno carioca e também a economia local, movimentando cerca de R$ 75 milhões em três dias. Apenas três meses depois, um público de 90 mil pessoas compareceu à Marina da Glória durante o Oktoberfest Rio, que movimentou R$ 180 milhões.
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São eventos que geram empregos, renda e – acima de tudo – trazem a marca da diversidade. Artistas de origens diversas e sonoridades distintas promovem uma experiência única. O Rio espalha seus encantos em forma de música, arte e gastronomia, atraindo não só os cariocas, mas turistas de outros estados e também do exterior. O mesmo calor humano foi sentido nas arenas montadas em plena Praça Mauá, durante os jogos da seleção brasileira na Copa do Mundo (2018) e na Copa América deste ano.
Mas não há como produzir eventos desse porte, aclamados pelo público e a crítica, se não houver parcerias de peso. Muito além de patrocínios, alvarás e infraestrutura, o que falta é engajamento. Neste aspecto, o Rio vive um momento desafiador: o setor de entretenimento precisa de empresas e órgãos públicos que abracem a causa, isto é, unam forças para recuperar uma vocação natural da cidade através da arte e da cultura.
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A conjuntura não é favorável. Os indicadores de violência e as sucessivas crises econômicas tornam as empresas arredias na hora de investir e contribuem para afugentar parte do público. É preciso remar contra essa maré. Como realizador de eventos e produtor cultural há 30 anos, acredito que não basta levar entretenimento de qualidade ao público, mas sobretudo resgatar a autoestima dos cariocas. É um trabalho que mistura razão e emoção. E também um privilégio por ter como cenário uma cidade cosmopolita e acolhedora, que não por acaso é a capital cultural do país.
Os números traduzem bem essa vocação. O Rio é um dos pilares do chamado PIB Criativo, que abriga a indústria do entretenimento, entre outros setores. Essa indústria representa 2,61% de toda a riqueza produzida no Brasil e conta com mais de 800 mil trabalhadores. Em 2017, segundo estudo recente da Firjan, o PIB Criativo do país somou R$ 171,5 bilhões. O Estado do Rio respondeu por 3,8% desse total, atrás apenas de São Paulo. Juntos, empregam mais de metade da mão de obra no setor.
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Nesse contexto, as cidades têm papel-chave no estímulo à indústria criativa, já que ela é formada, em grande parte, de eventos locais. No Rio, há espaço de sobra para diversão, boa música, encontros festivos e trocas de experiências. Esse retorno é inestimável. Apesar das dificuldades, dá para fazer mais, muito mais. Afinal, é do Rio que estamos falando.
*Peck Mecenas é realizador de eventos e dono da Peck Produções.