Por Cid Pitombo*
Durante muitos anos, a imagem de um bebê rechonchudo causava ternura em quem a visse. Na cultura ocidental, esse peso extra era muitas vezes associado a ideia de uma criança saudável e que os pais faziam um bom trabalho na nutrição de seus filhos. Só que não é bem assim. Diante do aumento cada vez mais crescente de obesos no Brasil e no mundo, é importante chamar atenção para os efeitos de médio e longo prazos da obesidade na infância e na adolescência.

O Ministério da Saúde acaba de divulgar um dado preocupante: três de cada 10 crianças atendidas pelo SUS estão acima do peso. Corremos o risco de estar criando hoje uma nova geração de obesos mórbidos. Não à toa foi lançada uma campanha nacional para incentivar pais a estimularem filhos a abandonarem o sedentarismo e melhorarem a alimentação.

Para além da questão estética, o excesso de peso pode provocar o surgimento de vários problemas de saúde como diabetes, problemas cardíacos e a má formação do esqueleto. E um sinal de alerta para a necessidade de prevenção imediata: oito em cada dez adolescentes continuam obesos na fase adulta.

Hoje, já sinto na rotina do consultório os efeitos dessa realidade. Observo há alguns anos um aumento crescente de pais levando filhos menores de idade para avaliação e discussão sobre cirurgia da obesidade. E esse não deve ser o caminho. Se para o adulto a cirurgia bariátrica deveria ser o último recurso após a constatação clara de um caso de obesidade mórbida, na infância, essa solução só se aplica em casos muito excepcionais. Mas há muitos pais cogitando e, pior, profissionais realizando cirurgias desnecessárias em crianças e adolescentes.

Apesar de ser cirurgião bariátrico, sou o maior apoiador da prevenção, talvez por saber exatamente das graves consequências dessa doença. Já operei em diversos países do mundo e no Brasil desenvolvo ampla pesquisa sobre o tema. Visito escolas, creches e empresas tentando entender onde estamos errando. E o relato das crianças coloca o hábito alimentar da casa, bem como o tipo de oferta alimentar feita pelos familiares, como o grande “vilão” dessa doença. Não são elas que vão ao mercado fazer compras e, portanto, não são elas que facilitam o acesso aos alimentos industrializados, ultraprocessados, cheios de sal e com quase nada de nutriente.

As crianças em geral ganham peso com facilidade por conta de hábitos alimentares errados, inclinação genética, estilo de vida sedentário, distúrbios psicológicos, problemas na convivência familiar, para citar alguns exemplos. Nem sempre a ingestão de grande quantidade de comida é a causa, pois em geral as crianças obesas usam alimentos de alto valor calórico, que não precisa ser em grande quantidade para causar o aumento de peso. As crianças costumam imitar os pais em tudo que fazem. Assim sendo, se os responsáveis têm hábitos alimentares errados, acabam induzindo os filhos a se comerem do mesmo jeito.

Fatores hormonais também podem estar relacionados como causa da obesidade. Apesar de serem raros, sempre devem ser pesquisados. Alguns deles são cada vez mais comuns na infância como excesso de insulina; deficiência do hormônio de crescimento; excesso de hidrocortizona, os estrógenos. Além deles, fatores genéticos e psicológicos influenciam e precisam ser pesquisados.

O momento de mudança é agora. Hoje! Nos últimos 30 anos, o contingente de obesos aumentou cinco vezes no país.

Para prevenir que a situação se torne o caos de saúde pública que se anuncia, é fundamental que pais e responsáveis garantam a seus filhos uma alimentação balanceada, rica em frutas, legumes e verduras; respeitem os horários das refeições, evitando as beliscadas nos intervalos; evitem alimentos gordurosos, como doces, frituras e refrigerantes; incentivem a prática de atividades físicas e a ingestão de pelo menos dois litros por dia. A obesidade é um problema grave e deve ser encarado com cuidado. Se você conhece alguém nessa situação, oriente a procurar por um serviço confiável.
 
Publicidade
*Cid Pitombo é médico e cirurgião.