Júlio Furtado  - Divulgação
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Por Júlio Furtado*
No apagar das luzes de 2019 saiu o resultado do PISA 2018 (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Essa prova é realizada pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) a cada três anos com estudantes de 15 anos de idade de 79 países. A partir da prova aplicada em 2018, o PISA avaliou as habilidades de leitura, matemática e ciências. Participaram da prova cerca de 10,7 mil estudantes brasileiros de 638 escolas públicas e particulares. No ranking mundial, o Brasil ocupa as posições 57° em Leitura, 70° em Matemática e 64° em Ciências. Embora ainda esteja abaixo da média, o Brasil apresentou leve melhora nas três áreas o que, ao iniciarmos mais um ano, nos faz pensar sobre a forma como estamos caminhando.

A mídia em geral tem abordado o resultado, dando ênfase à estagnação da educação brasileira entre os países com os piores níveis de educação básica. Diante da inevitável sensação de ver o mesmo filme a cada três anos, proponho aqui uma forma diferente de analisar a situação. Em primeiro lugar, pergunto quais reais melhorias tivemos em políticas públicas educacionais nos últimos 3 anos? Reflito, também, sobre quais melhorias concretas tivemos em termos de tornar a equidade uma realidade em nossas escolas, reduzindo a influência da desigualdade socioeconômica sobre a aprendizagem dos alunos (em Leitura, os alunos de nível socioeconômico mais alto superaram os mais pobres em 97 pontos). Diante disso, qual resultado milagroso esperávamos alcançar? Baseados em que evidências concretas de melhoria da educação nacional?

Um foco importante a ser destacado nesse resultado é o fato de os estudantes brasileiros de perfil socioeconômico e cultural mais elevados terem capacidade de leitura pior que a de alunos pobres dos outros países. Isso ajuda a ressignificar a ideia da boa qualidade das escolas privadas brasileiras. Outra constatação que vai nessa direção é a de que 10% dos estudantes de baixa renda conseguiram pontuar entre os índices mais altos do desempenho em Leitura, prova de que a desvantagem econômica pode não ser tão determinante assim.

Gostaria de propor um brinde ao resultado do PISA 2018. Sim um brinde à educação desse país que embora tenha abandonado as metas do Plano Nacional de Educação, continua lutando e mostrando que mesmo nadando contra a maré, consegue não abandonar a competição e cruzar a linha de chegada.
*Júlio Furtado é professor e escritor