Geraldo Peçanha - Divulgação
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Por Geraldo Peçanha de Almeida*
Pouca gente sabe, ou se lembra, que nós, humanos, não nascemos na escola. Pelo contrário, somos encaminhados para ela em algum momento da vida. A esse processo dá-se o nome de transição escolar. A transição para a escola é um processo tão sério e tão importante que já mereceu livros, teses, discussões e, é claro, muitas opiniões.

Transferir uma criança do contexto familiar para a escola requer cuidado e esse cuidado é afetivo, é delicado, é compassivo. Ao nascer, uma criança tem que ir, aos poucos, se adaptando às regras de uma sociedade: comer da maneira que nos dizem, falar da forma que nos orientam, comportar-se como esperam e aí segue o processo de humanização. Porém, tudo isso acontece num contexto familiar, concomitante à aquisição da linguagem. Aprendemos a falar ao mesmo tempo que aprendemos a nos colocar no “mundo de casa”; no nosso mundo.

Esse nosso mundo é familiar, com regras e condições que a nossa família acha importante. Acontece que, depois de toda essa adaptação, que já durou no mínimo 4 anos, a criança é levada a uma escola, que na cabeça dela não quer dizer nada, e ao mesmo tempo quer dizer tudo.

Que espaço é este onde todos têm o mesmo direito? Que espaço é este que tem horário pra tudo? Que espaço é este onde todos tem que fazer a mesma coisa o tempo todo? Que espaço é este onde as regras de cada um não valem mais e agora só valem as regras coletivas? O que são estas tais palavrinhas mágicas que tanto me cobram? Essas são perguntas feitas pelas crianças que são colocadas na escola. É claro que diante de tantas questões, dependendo do estado emocional da criança, ela opta por não fazer esse esforço, ou seja, é aí que a tal transição escolar não acontece. Para que uma criança possa fazer a opção por aceitar e encarar essa nova jornada, que exigirá dela muita perda, muito limite e muita frustração é preciso que ela tenha certeza de que não estará sozinha. Pais e educadores têm a difícil tarefa de seguir os passos da criança enquanto ela sozinha vai fazendo as concessões e vai tirando a suas conclusões. Quando uma criança sente que o desafio será grande demais e que ela está absolutamente sozinha, nada vai acontecer e a tal transição escolar vira um tormento para a família e sobretudo para a escola.

Aqui cabe o velho ditado: espinho quando tem que furar de pequeno traz a ponta. Ou seja, se a entrada na escola não é doce e delicada, a permanência nela dificilmente será.
*Geraldo Peçanha de Almeida é psicanalista e educador