Jacqueline Resch - Divulgação
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Por Jacqueline Resch*
Estamos em janeiro, início de ano, quando é bastante comum nos comprometermos com metas, novas posturas e ações. Uma hora oportuna para refletirmos sobre a vida, o trabalho, a saúde e o equilíbrio para lograr bem-estar.

Estamos também no mês da campanha do Janeiro Branco, cujo principal objetivo é chamar a atenção para a saúde mental dos brasileiros. O assunto é preocupante, os dados alarmantes:

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) 5,8% dos brasileiros (cerca de 12 milhões de pessoas) sofrem de depressão. É a maior taxa da América Latina e a segunda maior das Américas, atrás apenas dos Estados Unidos. Estima-se que entre 20% e 25% da população teve, tem ou terá depressão, sendo essa a doença psiquiátrica com maior prevalência no Brasil.

Em seguida, aparece a ansiedade, que afeta 9,3% dos brasileiros (cerca de 19,4 milhões), e faz com que o Brasil ocupe o primeiro lugar da lista de países mais ansiosos do mundo. Os transtornos ansiosos incluem fobia, transtorno obsessivo-compulsivo, estresse pós-traumático e ataque de pânico.

O suicídio é a terceira principal causa externa de mortes no Brasil (atrás de acidentes e agressões), com 12,5 mil casos em 2017, segundo o Ministério da Saúde. Em relação ao ano anterior, o aumento foi de 16,8%.

Porém, quero falar de uma nova epidemia. O Burnout (“queima total”, numa tradução livre), que se desenvolve especificamente devido ao trabalho, passou a ser classificado no ano passado como síndrome pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e já atinge quase 20 milhões de brasileiros. O quadro reúne sinais físicos; psíquicos, comportamentais e profissionais. Os sintomas são muitos: fadiga, distúrbios do sono, dores no corpo, desânimo, desesperança, baixa autoestima, comprometimento da memória; agressividade, pessimismo até queda de desempenho, baixa concentração e comunicação precária.

Jeffrey Pfeffer, professor da Escola de Negócios da Universidade de Stanford, que esteve em setembro passado no Brasil no Simpósio Work Place Wellness, falou com todas as letras - “O trabalho está matando as pessoas e ninguém se importa”, acrescentando que a principal fonte de estresse no mundo é o ambiente de trabalho.

Wagner Gattaz, professor titular de Psiquiatria, Presidente do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP e presidente da Gattaz Health & Results, em painel que tive a honra de moderar, realizada em outubro passado no IAG PUC-Rio explicou que o Burnout é determinado por fatores internos e externos ao indivíduo. Comportamentos individuais como ambição, perfeccionismo, necessidade extrema de reconhecimento, sacrifício das próprias necessidades em função de servir ao outro, desejo de ser insubstituível são aspectos da personalidade que precisam ser cuidados porque estão na origem da síndrome.

O ambiente corporativo também é determinante para a emergência do Burnout
Culturas de pouco diálogo, poucas oportunidades de participação, comunicação incipiente, pouco reconhecimento, baixa autonomia e muita pressão são um convite para a emergência do burnout. Jeffrey Pfeffer advoga que cabe as empresas adotar programas de prevenção e é delas a responsabilidade de criar uma cultura de bem–estar, sem ficar cobrando mais resiliência de seus colaboradores.

O que podemos fazer, como profissionais de recursos humanos, então, além de tomar consciência durante o mês de janeiro? Qual é a nossa responsabilidade dos líderes das organizações? Como começar a criar ambientes mais colaborativos onde as pessoas possam de fato dialogar e participar?

Quando é que o colaborador – palavra que hoje substitui a palavra empregado ou funcionário – vai de fato encontrar espaço para colaborar e co-construir? Quando múltiplas visões e perspectivas serão de fato aproveitadas como uma riqueza e não mais serão expurgadas como ameaçadoras?

Aqui na RESCH, nos debruçamos sobre o tema há quatro anos, conversando com clientes, alunos e nossos pares, buscando formação específica e desenvolvendo novas metodologias que privilegiam a construção de contextos para o diálogo, priorizam o processo coletivo de aprendizagem, desenvolvem as habilidades reflexivas e relacionais e adotam a diferença e a diversidade como riqueza. Nossos programas hoje contemplam um processo no qual todos aprendem com todos e as soluções para os problemas reais nascem da potência das pessoas em conversas.

Mas como é isso? Uma nova panaceia?
Não, de jeito nenhum. Apenas recuperar a possibilidade da CONVERSA, coisa que fomos desaprendendo. Uma CONVERSA na qual estamos realmente COM o outro, isto é, há abertura para escutar, ainda que sua opinião pareça inútil ou inviável. Uma conversa na qual a gente se esforce para suspender, ainda que temporariamente, os nossos julgamentos, as nossas críticas, para entender o que pode ter de valioso ali.

Cá entre nós, fácil não é, não. É um exercício diário. Afinal a maioria de nós foi forjada na cultura da competição, cultura do eu ou você, na qual prevalece a melhor ideia e fica bem na fita quem tem o melhor argumento. Mas, e quando a melhor ideia não é a minha, não é a sua, mas a minha junto e misturada com a sua e com as dos demais, resultando em algo novo, mais potente e que nem passava por nossas cabeças quando estávamos cada um de nós agarrados a nossas convicções?

Sim, precisamos criar alternativas a esta realidade obscura e cinzenta, aproveitando o janeiro branco para tomar consciência e refletir. Que 2020 seja um ano para nos colocar em ação, na construção de uma realidade com novas cores e novas possibilidades.

*Jacqueline Resch é consultora e sócia-diretora da RESCH RH. É graduada em Psicologia pela PUC-Rio, tem MBA pela COPPEAD (UFRJ), pós-graduação pelo IPUB/UFRJ e se especializou em práticas de colaboração e diálogo pelo Taos Institute (EUA)