Ricardo Rio - Divulgação
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Por Ricardo Rio*
Hoje a tragédia ocorrida no centro de treinamento presidente George Helal, do Flamengo, completa um ano. O local é habitualmente conhecido como Ninho do Urubu. Apesar de ter passado tanto tempo, ninguém foi efetivamente responsabilizado pela tragédia. As autoridades ainda tentam esclarecer o ocorrido, mas parece que a questão ainda está longe de ser resolvida.

Todavia, percebe-se que não é preciso um trabalho tão profundo de investigação para identificar algumas falhas, que provavelmente foram as protagonistas nesse episódio. Por exemplo, por que não havia ninguém no local para combater o incêndio quando ele ainda estava no estágio inicial (princípio)? Por que o alojamento não foi construído com um tipo de material anti-chamas, que não exalasse fumaça tóxica? Havia extintores de incêndio no local? Por que não havia saída de emergência (alternativa para o escapamento) no alojamento?

É imprescindível que essas perguntas sejam elucidadas. De acordo com as respostas poderemos ter uma ciência do que realmente aconteceu, se houve falha na prevenção ou se a prevenção nem foi considerada. Cada fato direciona para uma responsabilização, dos dirigentes ou dos profissionais que cuidaram da segurança.

As duas vertentes são fortes opções. Sim, porque um profissional ligado a prevenção de acidentes deve ser bem qualificado, deve estar atualizado com as medidas de controle e agir com proatividade. Além disso, deve estar sempre adquirindo novos conhecimentos. Por coincidência ou não, o Rio de Janeiro receberá no próximo mês (março) um evento especializado (Feira Brasil QSMS), justamente para suprir tecnicamente os profissionais desse segmento (a entrada é gratuita). Se esses profissionais foram insatisfatórios tecnicamente, devem responder por isso.

Por outro lado, os dirigentes devem ser responsáveis por suas ações. Se nesse episódio foram negligentes por não investir os recursos financeiros necessários ou por não contratar profissionais para trabalhar a questão da prevenção, também devem ser indiciados por isso.

Paralelamente, inclui-se ainda a figura do estado, que tem o poder e o dever de fiscalizar. Os órgãos que estão diretamente ligados a essa questão são a Delegacia Regional do Trabalho (DRT) e o Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ). A DRT deve fazer incursões periódicas para verificar as condições de trabalho, isso inclui os dormitórios. Já o CBMERJ deve verificar as instalações e conceder uma licença (depois não realiza inspeções periódicas, salvo se as instalações forem alteradas, neste caso o CBMERJ deve ser avisado pela empresa). Especificamente no caso do Ninho do Urubu inclui-se ainda o Conselho Tutelar pelo fato dos profissionais serem menores de idade.

Em qualquer um dos casos a consciência prevencionista deve ser um pilar inegociável. Dessa forma, a informação servirá como prevenção e minimizará as possibilidades de tragédias como essas ocorrerem.
*Ricardo Rio é perito ambiental