Opina15fev - Arte Paulo Márcio
Opina15fevArte Paulo Márcio
Por João Batista Damasceno*
Embora as expressões conservadorismo, autoritarismo, fascismo e nazismo estejam no uso cotidiano da sociedade brasileira no presente momento, é preciso distinguir tais conceitos e saber o que destas categorias há nas relações sociais no Brasil.

O conservadorismo se caracterizou pela oposição ao pensamento racionalista difundido no período iluminista. O iluminismo foi um dos períodos mais revolucionários da história da humanidade. Devemos a ele todo o progresso científico que propiciou os meios que nos facilitam a vida. Mas, há quem difunda pelas redes sociais, para as quais são imprescindíveis os satélites, a ideia de que a terra é plana ou quem, negando a possibilidade de evolução das espécies, mude o remédio quando o microrganismo que causa mal ao seu corpo fica resistente ao remédio até então usado. Assim, o conservadorismo se alimenta da ignorância e recusa os raios de luz que o conhecimento poderia proporcionar.

O conservadorismo se opõe à concepção progressista da vida, pois esta significa um rompimento com a tradição. O conservadorismo é a contraposição a uma história humana em processo aberto e ascendente, com indivíduos capazes de se tornarem melhores. A teologia da prosperidade é um espaço ideal para a manutenção do conservadorismo. Por meio dela, líderes religiosos convencem o rebanho de que lhe deve dar dinheiro para custear suas despesas, mas garante aos fiéis incautos que deus providenciará para eles os pagamentos de suas contas. Porque o líder não pede diretamente a deus e deixa de lado o dinheiro dos fiéis? O projeto implantado no Brasil colônia, que proibia o estudo dos pensadores modernos e iluministas cerceou o pensamento crítico e contribuiu para o conservadorismo no Brasil. A crise da educação no Brasil não é fracasso, é projeto.

A inauguração do Brasil não foi feita por cidadãos. Mas, por senhores de engenho e de pessoas, num modelo autoritário. O autoritarismo é um sistema político que privilegia o primado da autoridade em prejuízo dos cidadãos e que hierarquiza as relações sociais, caracterizando-se pela obediência aos superiores e arrogância e desprezo aos considerados inferiores. O autoritarismo nega que a democracia tenha condições de produzir a “verdadeira autoridade” E, tal como o nazismo e o fascismo emprega a violência para eliminar os considerados indesejáveis. Numa estrutura autoritária não se admite manifestação. Pouco importa o conteúdo. O que não é admitida é a fala.

Vivemos tempos difíceis. A peça Sísifo, encenada com mestria por Gregório Duvivier no Teatro Prudencial, tem sido apresentada com forte esquema de segurança. Já não se duvida que o governo das milícias possa protagonizar o que fizeram outros grupos paramilitares com os atores da peça Roda Viva durante a ditadura empresarial militar. Algumas das práticas truculentas daquele lamentável período histórico, se repetem, como tragédia. Dentre elas a censura a livros. Até Machado de Assis! Quem elaborou a recente lista de livros a serem censurados não deve ler. Se começar a ler poderá censurar até a Bíblia, sobretudo em razão do livro de Cantares ou Cânticos dos cânticos, capítulo sete.
*João Batista Damasceno é juiz