Opina21fev - Arte Paulo Márcio
Opina21fevArte Paulo Márcio
Por Marcelo Guedes*
E Por Falar Em Saudade... Em 1985, a escola de samba Caprichosos de Pilares conquistou o quinto lugar entre os gigantes do carnaval carioca com um enredo criativo e simples, mas que envolveu toda a passarela. Foi nessa década que, definitivamente, foi construído o “maior espetáculo da terra”. Uma época em que muitas agremiações se apoiavam em seus patronos para poder realizar o mais luxuoso desfile. Uma época em que um CD das escolas de samba era algo cobiçado nas festas de amigo oculto ou como presente de Natal.

A preparação do desfile levou a um orçamento jamais pensado na estrutura das escolas. Era um “salve-se quem puder” para manter-se no Grupo Especial caso a agremiação não tivesse o apoio de um mecenas. Como solução, surgiu a verba disponibilizada pelo poder público ou a incessante busca por qualquer tipo de patrocínio. Se a ajuda do governo permitia a realização de um carnaval de permanência no Grupo Especial, o patrocínio suportaria a realização de um carnaval competitivo para as agremiações que não tinham a presença do patrono. O grande problema é que não foi construído um modelo de patrocínio adequado ao carnaval gerando o desconhecimento, por parte das empresas, da enorme potencialidade de exposição de uma marca e ocasionando o fracasso, por parte de algumas agremiações, no desenvolvimento de um enredo patrocinado.

Com o surgimento da crise econômica e de políticos que não priorizam ou até mesmo depreciam a importância social, econômica e cultural do carnaval, perde-se a ajuda financeira governamental que, para muitas agremiações, era fundamental para conseguir colocar o desfile na rua.

Será que estamos presenciando o fim do desfile das escolas de samba? O que esperar do desfile de 2020? Aquele que poderia ser considerado um ano terrível para o carnaval carioca pode trazer grandes surpresas. Definitivamente, as escolas estão procurando resgatar sua criatividade, alegria e influência sociocultural. Um sinalizador disso é o conjunto de enredos políticos e críticos que iremos assistir. Por outro lado, os carnavalescos buscam soluções inovadoras, baratas e de impacto.

É hora das escolas de samba criarem um modelo de patrocínio, apoiado pela LIESA, que explore a potencialidade do carnaval. Os sambistas, grandes estrelas e protagonistas do espetáculo, devem ser apoiados e prestigiados por uma estrutura administrativa profissional possível de ser estabelecida em uma cidade criativa como o Rio de Janeiro. O desfile das escolas de samba deve ter um plano de comunicação que resgate o interesse de todas as gerações, possibilitando que os sambas estejam na boca do povo e que assistir ao desfile volte a ser objeto de desejo. A estrutura da Sapucaí deve ser reavaliada fazendo jus ao título de “maior espetáculo da terra”. Nossas velhas guardas e quadras devem ser prestigiadas ao longo dos 365 dias do ano, pois o carnaval carioca não pode se resumir a dois dias de espetáculo.

Precisamos definitivamente dar atenção para aquele que é um dos maiores bens culturais de nossa cidade. O samba não pode morrer!

*Marcelo Guedes é professor ESPM Rio e pesquisador de carnaval