Ivanir: estruturas de controle continuam com os brancos - Divulgação
Ivanir: estruturas de controle continuam com os brancosDivulgação
Por Prof. Dr. Babalawô Ivanir dos Santos*
Na noite do último dia 25, para o dia 26 de fevereiro, assistimos ao ato final do carnaval do ano de 2020. Diante de toda magnitude do carnaval carioca, quero aqui humildemente pedir licença para me limitar a fazer uma brevíssima leitura sobre a seis primeiras escolas de samba do ano desse ano. É inegável que com sambas enredos fortes, potentes e político desfilaram na Avenida Marques de Sapucaí a memória das lavadeiras de Itapuã que de "Alma Lavada" marcado pela força ancestral das mulheres negras que chegaram no Brasil, na condição de escravas. Rompendo com o silêncio imposto pela sociedade racista e homofóbica, também exalou no desfile de carnaval a memória de um dos grandes representantes das religiões de matriz africana no Brasil que trazia no seu corpo, suas ações e gestos, como símbolo de resistência cotidiana contra a opressão. Em tempos de grandes casos de desrespeito, intolerância e violação dos direitos humanos a frase "Respeite o meu Axé" se tornou no sambódromo um ato de resistência tele-transmitidos para os quatro cantos do mundo. Na linha do fortalecimento, da alteridade e representatividade a homenagem à Elza Soares, a passarela do samba carioca foi pequena. Uma grande estória, um caminho de resistência de uma das maiores cantoras negras do mundo. Elza se fez samba, fez da cadência dos seus atos a vizibilidade para a mulher negra.

E por falar em "caminhos", também se fez ecoar o enredo que indiretamente falou sobre o senhor dos caminhos na tradição yorubá africana e religiões de matrizes africanas "Ê Laroyê Ina Mojubá", pedindo passagem na avenida do samba e levanto o senhor dos caminhos para o centro de todas as conexões e descobertas. Na possibilidade de uma reescrita da história ou evidenciar a história silenciada - "O Rei Negro do Picadeiro", nos trouxe um mundo desconhecido por boa parte da população brasileira. Um mundo de estórias e histórias solapadas pela história oficial que tira o protagonismo de homens e mulheres negros dos centro de representatividades políticas e sociais, e assim, nos destituindo de qualquer possibilidade de participação na construção social, política e cultural do país. Fechando a minha análise, pontuo aqui o "Jesus da Gente", que entrou na avenida sobre uma leitura e uma homilia contemporânea à luz dos marginalizados, de mulheres negras, das comunidades indígenas e dos moradores dos guetos e vielas das cidades. Com uma letra enfática a escola buscou dar o tom político diante de tantas questões e mazelas sociais que ainda são perpetradas na sociedade brasileira. E no final? Ganhou as mulheres negras, a resistência, a luta pela tolerância, pelo respeito, pela visibilidade e a possibilidade de reescrever uma história à luz das experiências cotidianas da gente comum brasileira, pois "independente da sua fé o respeito deve prevalecer".
*Babalawô Ivanir dos Santos é professor e doutor (PPGHC/UFRJ, CEAP, CCIR)