Marcos Espínola - Divulgação
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Por Marcos Espínola*
As fortes chuvas têm causado estragos em todo o país, especialmente em Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Por aqui, esse drama é recorrente e a percepção é de que a cada ano é ainda pior, tendo na ineficácia do poder público local um destaque lamentável. Notoriamente, não há um plano de ação para minimizar as consequências das chuvas previstas para todos os verões. Assim, diante do caos as desculpas são as mais esfarrapadas e o saldo é de mortes, desabamentos e famílias inteiras desabrigadas.

A mudança climática no planeta é, sem sombra de dúvida, um fator a ser considerado para tamanhas alternâncias de temperaturas, incêndios e chuvas desproporcionais. Não há mais como ignorarmos essa realidade que precisa, urgentemente, ser vista por todas as nações. No entanto, de forma regionalizada é preciso que se faça o dever de casa.

No nosso país, de dimensões continentais, não só o governo federal deve estar atento a novos protocolos, como cada estado e município precisa fazer a sua parte. É inaceitável que em pleno século 21, o saneamento básico no Brasil, mesmo sendo um direito assegurado pela Constituição e definido pela Lei nº. 11.445/2007, ainda ocupe o 112º num ranking de saneamento entre 200 países, segundo o Instituto Trata Brasil e o Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS).

Falta infraestrutura básica para uma população que nos últimos 50 anos mais do que dobrou de tamanho. A desorganização urbana cresceu paralelamente, aumentando o número de favelas e de residências em áreas de risco, uma desordem que ocorreu sob os olhos apáticos do poder público.

Ninguém leva a sua família para viver em áreas de alta periculosidade por que quer. Tampouco se pensa em economizar tubos conforme ouvimos do prefeito. A pobreza é uma realidade e cabe ao Poder Público oferecer condições dignas de habitação e fiscalizar para evitar que certas áreas sejam habitadas para que vidas sejam preservadas.

Claro que a população tem a sua dose de responsabilidade quando polui a Cidade, rios e esgotos. Isso merece uma reflexão de cada um de nós. Por outro lado, falta educação para o povo, assistência e serviços sociais sólidos que possam reforçar a formação cidadã.

Enquanto isso não acontecer de forma eficaz, as águas de março cantada pelo Mestre Tom Jobim, trarão não promessas de vida no nosso coração, mas dor, morte e tristeza.

*Marcos Espínola é advogado e especialista em Segurança Pública