Opina 09 março - Arte Paulo Márcio
Opina 09 marçoArte Paulo Márcio
Por Rosane Felix*
A campanha de prevenção à gravidez precoce lançada pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, em parceria com o Ministério da Saúde, gerou um debate polêmico que acabou por esconder sua real intenção. Ao invés de pregar a abstinência sexual e o descarte de métodos contraceptivos entre os jovens, discurso sustentado pela maioria dos que criticaram sua proposta, em sua essência, a campanha estimula a reflexão sobre o comportamento mais responsável em relação ao sexo. E precisamos falar sobre esse assunto.

Vivemos em uma sociedade onde a erotização é precoce, pesquisa recente revela que apenas 40% dos pais tomam algum tipo de cuidado em relação ao que os jovens podem encontrar de inapropriado na internet. Um estudo elaborado pela professora de Sociologia Gail Dines, presidente da Culture Reframed, organização americana que luta contra a produção pornográfica revela que, se um menino de 11 anos pesquisa o termo Pornografia no Google, pode achar que vai encontrar somente mulheres nuas, mas um levantamento sobre conteúdos mais recorrentes nessa área revelam práticas sexuais violentas, com mulheres sendo reduzidas a um produto a ser consumido, o que acaba estimulando o aumento dos casos de violência sexual e de feminicídio.

Paralelamente, a relação sexual precoce e casual possibilita a gravidez indesejada e, até mesmo, a depressão. Ou seja, estamos falando de um problema social e de saúde pública que deve ser tratado como prioridade em campanhas voltadas para esse público. Precisamos de um olhar mais humano para o adolescente, chamando a atenção para as consequências da exposição exagerada à pornografia. Só para se ter uma ideia, o PornHub, maior site do segmento do mundo, recebe 100 milhões de visitas diárias, sendo considerado a maior fonte de “educação” sexual para meninos do mundo inteiro.

Para estimular medidas preventivas e educativas que ajudem a reduzir a incidência da gravidez na adolescência, recentemente, apresentei o Projeto de Lei 1822/2020 na Alerj que inclui a Semana Estadual de Prevenção da Gravidez na Adolescência no calendário de datas comemorativas do Estado do Rio de Janeiro. Dados do Censo Demográfico do IBGE (2010) apontam que a proporção de adolescentes e jovens brasileiras entre 15 e 19 anos não inseridas no mercado de trabalho ou na escola é maior entre aquelas que já tiveram filhos em relação às que nunca foram mães. Ou seja, essas meninas estão mais vulneráveis à pobreza e à exclusão e, ainda por cima, mais expostas a complicações do parto, um dos principais motivos de morte entre adolescentes.

Todos os esforços para mudar o atual cenário nunca serão excessivos. Mesmo porque muitas famílias, que deveriam ter participação fundamental na orientação aos jovens, nem sempre conseguem falar sobre o tema com a seriedade que ele merece. Ao ser tratada como normalidade, a erotização precoce e a pornografia passam despercebidas pelas famílias e muitos chegam a alegar que há um policiamento exagerado em relação ao tema, para não citar a crítica ao moralismo.

Não estamos falando de coisas. Estamos falando de gente. São crianças formando sua personalidade. Jovens que podem prejudicar a própria saúde e o futuro por falta de orientação adequada. É preciso expor os perigos, garantir a prevenção, e massificar todo tipo de informação que garanta o poder de decisão consciente. A sociedade está em constante transformação, mas não podemos perder de vista que o comportamento de cada cidadão é o que move o seu bom desenvolvimento.

*Rosane Felix é deputada estadual pelo PSD-RJ e presidente da Comissão da Criança, Adolescente e Idoso na Alerj