Everton Gomes - Divulgação
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Por Everton Gomes*
As chuvas fortes e suas consequências são um conhecido problema da cidade do Rio de Janeiro. Sabemos que a realidade é cruel, até para quem sonha. E que, os graves danos provocados por inundações estão bem distantes de serem como as românticas, "águas de março" da música composta por Tom Jobim em 1972, e que teve como sua principal intérprete a cantora Elis Regina.

A emergência climática, fruto do aquecimento global, intensifica a ocorrência das fortes tempestades e sabemos que as regiões mais afetadas estão em países com grande desigualdade social e com administrações que não privilegiaram o bem estar da população, como o Brasil.

Os custos são altos, há poucos recursos e falta vontade política. No caso carioca, o problema ainda se agrava, já que somos uma bela obra urbana em meio a morros e alagados.

Torna-se, nesse sentido, fundamental uma governança pró-ativa e ambientalmente responsável. Precisamos percorrer os caminhos já conhecidos de países construídos com infraestrutura sólida. Temos alguns exemplos, de sociedades que resistem às chuvas e tempestades, para seguir.

Entre as opções, uma delas é o conceito de cidades esponjas. Que existem na China (A cidade sagrada), na Europa e nos EUA. Nelas os parques urbanos lineares auxiliam na captação das águas que transbordam dos rios e se acumulam nas vias.

Certamente, essa é uma opção menos custosa e que produz como efeito direto, mais qualidade de vida e bem estar. Reduzir a impermeabilização do asfalto é um caminho simples e que pode ajudar muito o Rio.
Infelizmente, o que assistimos no Rio de Janeiro é a Prefeitura deixar os parques ao abandono. A administração municipal deveria ser a maior interessada na criação de soluções.

Uma das regiões mais afetadas pela intensa chuva que caiu recentemente, em solo carioca, principalmente, em fevereiro, foi o bairro de Realengo, que tem projeto de lei (PL 32/2017) sugerindo a flexibilização de padrões urbanísticos, de forma a impedir a construção de um parque (Parque Verde de Realengo) em troca de 12 prédios de 10 andares numa área de 142 mil/m².

Próximo dali, a mesma ameaça recai sobre a Floresta do Camboatá, onde a Prefeitura insiste em querer derrubar duzentas mil árvores para a construção de um duvidoso empreendimento automobilístico.

A verdade é que as chuvas são um fenômeno natural que não pode ser evitado, mas seus efeitos certamente poderão ser minimizados caso exista trabalho sério por parte das autoridades e um novo olhar sobre o desenvolvimento de nosso Rio e que a população se mobilize para pressionar os políticos responsáveis pela administração.
*Everton Gomes é cientista político, vice-presidente da Fundação Leonel Brizola, porta-voz do Coletivo Rio Boa Praça