William Douglas - Reprodução
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Por William Douglas*
O Brasil precisa saber que há dois caminhos para enfrentar o Covid-19: lockdown horizontal, a quarentena geral, ou lockdown vertical, no qual o país volta a funcionar e apenas quem está infectado ou é de grupo de risco é isolado.

É preciso ser leal e inteligente para se ouvir os dois lados e saber que os dois caminhos têm vantagens, desvantagens e defensores respeitáveis e sérios. Só assim pode haver uma decisão correta.

Os médicos falam que a melhor solução é a quarentena geral. Porém, parte deles reconhece que isso traz efeitos colaterais graves, os quais também impactarão a saúde da população. Os próprios médicos assumem que de um jeito ou de outro o coronavírus infectará grande percentual da população. Não é “se”, mas “quando”.

Não é correto dizer que quem propõe a volta ao trabalho está em posição anticientífica. Isso é falso. Países sérios como Holanda, Suécia, Japão e Singapura não seguiram o caminho da quarentena. A OMS deve ser ouvida, mas quem toma as decisões políticas são os eleitos: Presidente e Governadores. E eles precisam olhar o quadro geral.

A decisão entre manter ou não a quarentena não é uma discussão entre “vidas e economia”, mas sobre “vidas e vidas”. A economia impacta tudo: empregos, sobrevivência, saúde mental, sustento, haver alimentos para as pessoas etc. Também impacta a capacidade do governo agir e produzir medicamentos, EPIs e ações de socorro.

Estamos no momento da colheita e a safra precisa chegar nas cidades. Muitos autônomos e empresários estão com renda zero. É preciso ter um mínimo de recursos para ir ao supermercado e é preciso que existam produtos nas prateleiras. Sem arrecadação de tributos não se pagam pensões, auxílios e os servidores públicos. Os efeitos funcionam como um dominó: o empresário e o autônomo não faturam, não conseguem pagar tributos, despesas e salários, e quem não recebe (governo e empregados) para de gastar, criando círculo vicioso.

Então, analisando o quadro maior, realmente o remédio pode matar mais do que a doença. O caos social gera insegurança, desemprego, saques e uma série de problemas que se somarão ao Covid-19.

Infelizmente, qualquer que seja o caminho, teremos muitas mortes, falta de recursos e sofrimento, mas, após relevante tempo de supressão, uma hora é preciso mudar para evitar um mal maior.

Logo, somado tudo, a solução menos danosa é, a partir de certo momento, haver uma migração organizada para o país voltar a funcionar. As autoridades precisam se entender e a população colaborar e atender as recomendações dadas. O Judiciário deve se autoconter e deixar as políticas públicas para quem foi eleito.
A verdade é que por mais que muitos queiram a quarentena, um dia ela tem que acabar, sob pena de faltar comida e haver caos. As autoridades precisam definir o essencial: quando migrar.

Espero que todos os brasileiros, juntos, superem esta crise. Vamos pensar no time, jogar limpo, respeitar a Constituição e a democracia e fazer nosso melhor. Vamos vencer.
*William Douglas é professor universitário, Mestre em Direito, Pós-graduado em Políticas Públicas e Governo, juiz federal/ RJ e escritor