Gustavo Miranda - Divulgação
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Por Gustavo Miranda*
Ainda sem buscar interlocução com o SEPE/RJ, a SEEDUC insiste em avançar com sua proposta de equivalência entre aulas presenciais e a distribuição de conteúdos online. Proposta essa que se confronta com a posição dos representantes da sociedade civil e da Recomendação 01/2020 do MP/RJ de suspensão das atividades na plataforma Google Classroom.

Na calada da noite de sábado (04/04), a SEEDUC divulgou numa Circular Interna procedimentos de acesso a plataforma. Embora não tenha dado nenhuma explicação para a sociedade. A mesma circular adia a divulgação das regras de frequência dos estudantes e de avaliação. É um verdadeiro atentado a boa prática pedagógica!

Como desenvolver atividades sem que se tenha nenhuma noção sobre o critério avaliativo?

Sobram questionamentos:
Como ficarão os milhares de estudantes que iniciaram o ano sem professor?
Como ficarão os profissionais e estudantes que por diversos motivos não tem como acessar a plataforma?

Se essa lógica excludente vingar, corre-se o risco de ampliar a desigualdade no interior da rede estadual; entre os que têm acesso à internet e os que não têm. Entre os que vão ter acompanhamento dos pais e os que não terão.

Para as direções a situação não é menos desconfortável. O diário oficial do Governo é o WhatsApp. A realidade da falta de planejamento nos faz lembrar o clássico de Woody Allen “Dirigindo no escuro”. Mais uma vez a função primordialmente pedagógica das Direções de Escola é substituída pela de “encaminhar” mensagens informais e convocar para as “lives” do secretário.

Em vez de abrir um amplo debate com a sociedade, incluindo especialistas e organizações com referência no debate educacional, o Secretário Pedro Fernandes opta por articular unilateralmente uma proposta. Com isso, se perde um precioso tempo sobre a melhor estratégia para enfrentar o pós-pandemia.
Nesses tempos de pandemia, onde se fala tanto em união da sociedade, o secretário Pedro Fernandes opta pelo voo solo. Um grave erro!

Decisões unilaterais não ajudam em nada. Sobretudo, quando se está construindo propostas para mais de 500 mil estudantes com realidades diferentes.

É preciso alertar a sociedade de que não será o resultado induzido por avaliações dirigidas que irá colocar nossa juventude em condições de superar a crise e encaminhar seu futuro. A qualidade da educação continua sendo um vetor fundamental. Todos sabemos dos transtornos gerados pela não conclusão do ano letivo, mas será que faz sentido rebaixar as expectativas para depois apresentar resultados burocráticos que só servem como números para propaganda?

Hoje a principal tarefa da escola é passar a mensagem de que as pessoas devem cuidar da sua saúde e do próximo. Combater a inatividade dos estudantes com propostas pedagógicas conscientizadoras ajudam nesse sentido. A SEEDUC deveria estar investindo numa ampla política de prevenção, transformando cada aluno num “combatente” do vírus, que convence seus pais de que a crise não é uma gripezinha. Infelizmente a mensagem é: entre na plataforma e o conclua o ano!

*Gustavo Miranda é Coordenador Geral do SEPE