João Batista Damasceno, colunista do DIA - Divulgação
João Batista Damasceno, colunista do DIADivulgação
Por João Batista Damasceno*
Fato social é um conceito sociológico que diz respeito às maneiras de agir dos indivíduos de um determinado grupo e da humanidade em geral. Os fatos sociais moldam a maneira de agir das pessoas pela influência que exercem sobre elas. São conjuntos de hábitos sociais que influenciam os comportamentos individuais. Os fatos sociais são hábitos sedimentados no seio das sociedades. Diferem do efeito manada ou comportamento de rebanho, que igualmente tem sido objeto de estudos para compreender o porquê de determinados comportamentos humanos.

Efeito manada é a tendência humana de repetir ações de pessoas influentes, por se acreditar no caminho indicado pelo líder. O nome é dado graças à semelhança com o que ocorre no reino animal, especialmente com espécies que vivem em comunidades. O efeito manada ocorre quando todos os integrantes de um grupo partem numa mesma direção, seguindo os indivíduos considerados mais fortes. Em muitos casos, este comportamento é motivado pela necessidade de proteção, porque, juntos, estes animais têm mais chances de sobreviver ao ataque de um predador. Mas, quando ocorre com os humanos, os efeitos podem não ser tão positivos.

Diversamente do efeito manada, o comportamento de manada é um termo usado para descrever situações em que indivíduos em grupo reagem todos da mesma forma, embora não exista direção planejada. Igualmente o termo designa comportamento animal. Por analogia também se aplica ao comportamento humano, em contexto de desinformação e incertezas.

Em tempo de difusão de um vírus estranho aos nossos organismos, as incertezas, a desinformação e a politização de assunto técnico têm propiciado comportamentos estranhos de indivíduos que se acreditam racionais. Assim, tem sido o tratamento a ser dado diante da difusão do coronavírus. A informação e a racionalidade são os melhores meios de evitar os efeitos danosos da pandemia.

Quando da pandemia de Gripe Espanhola em 1918, que matou o presidente Rodrigues Alves, igualmente as opções médicas se misturaram com as opções políticas. A 1ª Guerra Mundial durou de 1914 a 1918 e matou 8 milhões de pessoas. A Espanha não esteve na guerra e a imprensa pode divulgar a pandemia. Daí o mundo acreditou que o vírus era espanhol. Mas, foi levado para a Europa por soldados estadunidenses. Nos países em guerra a imprensa foi censurada e proibida de falar do vírus, o que também foi sugerido no Brasil. A falta de informação ajudou a difusão daquela pandemia e propiciou a morte de 20 milhões de pessoas, em três meses!

Diante de uma situação como a que vivemos as opções políticas são: promover isolamento social e cuidar para que o menor número de pessoas se infecte ou deixar que todos se infectem, para que apenas os mais fortes sobrevivam e, com o vírus atenuado, imunizem os demais. Esta última opção é a chamada imunidade coletiva. Seu oposto é o isolamento social. As duas opções políticas têm seus efeitos, seja na ordem econômica ou no grau de letalidade.

Mas, o tratamento a ser ministrado aos doentes não é opção política. Somente os médicos podem indicar o que deve ser feito. O serviço prestado por um médico não é atividade de resultado, mas de meio. O melhor tratamento pode não resultar no efeito desejado. Mas, o melhor ao alcance do médico tem que ser ministrado. Dos médicos se exige que diagnostiquem o mal e lhe dê o tratamento mais adequado. Cloroquina pode ajudar? Talvez. Não há estudo comprovando o efeito. Mas, em alguns casos pode ser prejudicial. Cabe ao médico decidir. Neste momento, até reza pode ajudar um doente que acredite, aumentando sua autoestima e imunidade. Mas, a técnica médica há de ser fundada na ciência e, fora dela, os efeitos danosos podem resultar em responsabilidade por erro médico.
*João Batista Damasceno é juiz