Antonio Florencio de Queiroz Junior - Divulgação
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Por Antonio Florencio de Queiroz Junior*
A pandemia do coronavírus trará consequências marcantes para nosso estilo de vida e para as relações sociais entre Estado, empresas e sociedade.

As cadeias de produção globalizadas sucumbiram diante da crise. Países competem por recursos e injetam trilhões de dólares para manterem suas economias vivas.

A fragilidade da logística internacional, a falta de cooperação entre Estados e a ajuda financeira que algumas empresas vêm recebendo indicam um mundo pós-COVID mais local e menos internacional.

Empresas precisarão mudar sua postura junto à sua comunidade, tanto pelo estreitamento de laços resultante de uma maior proximidade quanto pelo auxílio financeiro que receberam do Estado, que exigirá uma contrapartida.

Essa retribuição pode vir na forma de contribuições sociais. Não há maneira melhor de se retribuir uma ajuda dada via dinheiro público do que liderar ações que sejam benéficas para toda a sociedade

No Brasil, já existe um grupo de entidades especializadas no assunto, cujo exemplo deve ser usado como base para outras instituições estruturarem sua nova maneira de se relacionarem com sua comunidade. Esse grupo é o Sistema S.

Por ter sido criado exatamente com esse propósito, o Sistema S encontra-se em posição privilegiada para abrir um novo caminho no comportamento das empresas num mundo que exige mais comprometimento e senso coletivo.

Hoje o Sistema S já ajuda outras empresas a exercerem seu papel social. Programas como o Mesa Brasil, que é coordenado pelo Sesc em parceria com empresas do ramo de varejo, atacado e centros de distribuição de alimentos, mostram como empresas precisam apenas de uma facilidade logística para cumprir suas responsabilidades junto às suas comunidades. Com ele, o Sesc criou uma rede de distribuição de produtos não-aproveitados, evitando o desperdício de alimentos e outros materiais, se responsabilizando pela coleta, armazenamento e distribuição desses itens em comunidades carentes.

Ao resolver um problema de forma produtiva, o Sesc conseguiu 3.375 empresas parceiras no Brasil todo e hoje distribui alimentos para mais de um milhão de pessoas por dia.

São empresas que precisavam apenas de um fator facilitador para praticar uma ação socialmente benéfica. Esse espírito de solidariedade e cooperação tem sido evidente na luta contra o coronavírus e é o que precisamos catalisar nesse futuro que se desdobra diante de nossos olhos para sairmos melhores dessa crise. Esse espírito é a base na qual se sustenta a motivação de todo o Sistema S.

Além de promover e facilitar cooperação entre empresas e sociedade, o Sistema S mostra como esse tipo de atividade ajuda o serviço público quando realiza ações de prevenção na área da Saúde.

Programas como o OdontoSesc, que leva unidades móveis de atendimento odontológico a pequenos municípios, e o Saúde Mulher, que realiza exames preventivos de câncer, ajudam a aliviar o gargalo do atendimento público numa área que precisa de todo o auxílio possível.

Esses são exemplos de medidas materiais que empresas podem tomar para ajudar no bem-estar da sociedade. É possível ainda promover o bem-estar em outros níveis mais profundos. Nesse sentido, o Sistema S é a maior instituição de educação profissional do país. O Senac é responsável pela instrução de milhares de jovens adultos que têm no comércio seu primeiro emprego, aquele que para muitos é como um rito de passagem para a vida adulta e o pleno exercício da cidadania.

No Rio de Janeiro, o Sesc vai ainda mais longe e mantém uma escola de ensino médio que é referência no país. Uma infraestrutura excelente que abriga em tempo integral alunos e professores. Um modelo que pode servir de exemplo para governos adaptarem ao sistema educacional público.

É muito difícil o governo fazer experimentos nos seus sistemas. Nesse sentido, entidades privadas podem mostrar o que funciona e o que não funciona de forma mais rápida e localizada. É uma das muitas maneiras que empresas e governos podem atuar juntos.

Por fim, além de alimentação, saúde e educação, o Sistema S promove em comunidades mais vulneráveis intervenções artísticas que integram, estimulam e educam uma parte da sociedade que tanto precisa da nossa atenção. É um atendimento completo, abrangendo também as necessidades culturais da sociedade.

Essa é a face do novo capitalismo pós-COVID: cooperação em prol da responsabilidade social, foco no bem-estar em todos os níveis, consciência coletiva e menos desperdício. Aqui no Brasil, temos um exemplo a seguir.

*Antonio Florencio de Queiroz Junior é presidente da Fecomércio RJ e Presidente do Conselho Regional do Sesc RJ