Opina 15 abril - Arte Paulo Márcio
Opina 15 abrilArte Paulo Márcio
Por Marcos Espínola*
A constante tensão do carioca frente a violência nas últimas décadas deu lugar a outra tão letal quanto. Em verdade, estamos diante de um fenômeno que também nos leva a refletir sobre as lições que podemos tirar após a pandemia. Se antes a preocupação era com a bala perdida, hoje o maior foco é quanto ao contágio de um novo coronavírus que está matando centenas de milhares de pessoas no mundo todo. No entanto, os números mostram que o isolamento social trouxe não só a proteção da população contra a contaminação, mas também a queda do número de tiroteios na cidade, um fato que há anos não se via. Parece óbvio por um lado, porém pode ser uma chance de avaliarmos novos caminhos que possam minimizar mortes por armas de fogo.

Segundo a Plataforma Fogo Cruzado, no primeiro mês de quarentena na cidade do Rio, o número de tiroteios/disparos de arma de fogo na região metropolitana caiu quase pela metade (46%), sendo registrados 460 no período entre 14 de março e 13 de abril. Ao todo, 137 pessoas foram baleadas durante a quarentena - destas, 58 morreram.

Este período coincide com o decreto dos governos limitando a circulação de pessoas e do exercício de atividades não essenciais como medidas para a não propagação do vírus. No entanto, é interessante compararmos esses números com o mesmo período de 2019, quando houve 839 tiroteios no Grande Rio, com 129 pessoas mortas e 133 feridas. A plataforma sinalizou ainda que o isolamento social representou também uma queda de 55% no número de mortos e 41% no número de feridos.

Outra informação importante é a queda de 47% na quantidade de tiroteios com a presença de agentes de segurança, sendo 125 agora ante 236 no mesmo período do ano passado. E é nesse ponto que, talvez, esteja a necessidade de uma atenção maior, tendo em vista que, independente das circunstâncias, bem atípica, diga-se de passagem, os números comprovam caminhos para uma menor ação da violência.

Claro que em dias comuns não podemos contar com 70% das pessoas em casa, diminuindo significativamente a circulação nas ruas. Mas é possível imaginarmos que, pontualmente, a redução das incursões e/ou operações policiais de caráter ostensivo pode significar a mitigação de disparos, tiroteios e, consequentemente, vítimas de balas perdidas.

O desafio das autoridades em segurança pública é entender o que esse período pode nos trazer de aprendizado para mesmo no dia a dia normalizado minimizarmos confrontos e as mortes tanto de inocentes quanto de agentes de segurança.

*Marcos Espínola é advogado e especialista em Segurança Pública