Eugênio Cunha - Divulgação
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Por Eugênio Cunha*
Alteridade. Talvez esta seja a atitude que deve primar neste momento de pandemia as relações entre escola e família. É uma atitude que se estabelece com base nas diferenças e não nas igualdades. Estabelece-se nas condições de contraste. Não se ensina ninguém sem alteridade. Como professor, posso dizer que o pedagógico não é tanto o que eu uso para ensinar. É muito mais o que faz o outro aprender. Portanto, a alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro.

O que se vê hoje são docentes exercendo papéis além das suas funções habituais. Professores não têm mais horário. Reinventam-se cotidianamente numa plataforma desconhecida. Gravam aulas, fazem lives, produzem materiais didáticos, atendem pelo WhatsApp, pelo telefone, trabalham em casa. Além disso, a maioria do magistério é composta por mulheres que não podem fazer separação entre as atividades profissionais e as atividades do lar: cuidam dos filhos, cuidam da família.

No outro lado dessa ponte de ações, está a família do aluno, que também precisa trabalhar e, em alguns casos, dividir o computador com os filhos que estudam. Além de dividir o tempo e o espaço, sem poder sair, sem relaxar.

Estou nos dois lados dessa ponte: sou professor e preciso pensar nas dificuldades dos meus alunos para aprender. Também sou pai e vejo como está sendo difícil conciliar o ofício profissional com as tarefas escolares.

Neste momento, como pais ou educadores, o que fizermos jamais será suficiente. Nada substitui o contato presencial entre ensinantes e aprendentes. Nada substitui a organização familiar. Estamos em um novo espaço de aprendizagem, em que os papéis, antes plenamente definidos, hoje estão misturados. Deveria haver, então, um novo tratado de coautoria entre escola e família, professores e alunos.

As escolas e as famílias, precisam mover duas ações: a primeira é de aproximação, conhecendo-se um pouco mais. Não é tempo de conflitos, mas de colaboração. A segunda é estabelecer projetos futuros. O que a escola e a família poderão fazer quando terminar o confinamento? Decerto, haverá mudanças. As coisas não estarão do mesmo jeito. Saberemos, de fato, que não existe educação sem família e escola.

É preciso viver um dia de cada vez, é verdade, mas é necessário pensar no outro e nos movimentos que nos projetam para frente. Em todo grande desafio podemos sempre aprender. No desafio de agora não será diferente.

Estabelecer planos para futuro é uma excelente estratégia para superar a ansiedade e o estresse e outras complicações do confinamento. Acho que as escolas já poderiam começar a discutir com as famílias projetos futuros. É uma forma de tirar o pensamento contumaz do coronavírus e elevá-lo para os nossos propósitos e sonhos, alimentando os sentidos da esperança por tudo que amamos e ainda queremos realizar.
*Eugênio Cunha é Doutor em educação, professor do Ensino Superior e da Educação Básic