Everton Gomes - Divulgação
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Por Everton Gomes*
Quando criamos o Coletivo Rio Boa Praça, há cerca de um ano, nossa ideia foi chamar atenção para o abandono das áreas verdes, especialmente parques urbanos e praças.

Entendíamos que estes espaços são essenciais – além do lazer – para a promoção da saúde, através de valências físicas ou psíquicas agregadas. Acrescente-se a oportunidade de socialização das crianças e o encontro diário e agradável com o meio ambiente.

Uma praça, por pequena que seja, é um oásis urbano que colabora com a redução da propagação do calor, que se intensifica com a progressiva impermeabilização do solo das ruas e das residências, principalmente para os que moram em prédios, isolados ou condominiais, nos quais inexistem jardins.

Infelizmente, a realidade da nossa e de outras grandes cidades brasileiras foi forjada a partir de um desenvolvimento insano e desorganizado, que nos legou um apartheid urbanístico.

Separa os vizinhos, pelo poder aquisitivo, em zonas e regiões com mais ou menos infraestrutura. Modelo que, de forma geral, repeliu a constituição de uma relação ecologicamente mais equilibrada entre o cidadão e o verde.

A materialização deste cenário é a cidade desenhada por fortes tintas do preto asfáltico e do cinza concretado.

O isolamento social – corolário da pandemia Covid-19 – nos traz forçosas reflexões: é uma parada necessária para pensar no mundo que nos espera lá fora, passada esta hibernação tropical.

Dentre as muitas possíveis reflexões, gostaria de destacar a imperiosa necessidade de revalorização dos espaços urbanos – pelos quais temos lutado, através de ações coordenadas por nosso grupo.

Eles possuem imensa capacidade para promover um reencontro da sociedade, de forma livre e solidária, no período pós-pandemia. Todos ansiamos que isso tenha início o mais breve possível.

O Rio é conhecido, internacionalmente, por ser a Cidade Maravilhosa, exatamente pela harmonia entre o mar e sua cordilheira – verde porque é preservada. E existe, nesse ecossistema, um exemplo a ser seguido, o Parque Nacional da Floresta da Tijuca. Degradada pela extração de lenha e cultivo de café e cana-de-açúcar, foi replantada pelo major Gomes Archer, entre 1861 e 1874, por determinação de Dom Pedro II. Isto ocorreu há um século e meio.

Mas, sabemos que – em meio a tantos problemas de infraestrutura urbana nessa nossa cidade – que , muitas vezes, somos levados a crer que um efetivo cuidado de áreas públicas seja algo menor, face às graves emergências que temos em nosso país( precariedade dos serviços de saúde, educação e desemprego) . Ledo engano! O governo, a sociedade e a iniciativa privada devem compreender que fruir o espaço verde e livre é algo essencial.

Com a quarentena e imposição de restrições de convívio , certamente, muitos que antes não davam ao tema a devida relevância , olham, agora para cidades, que, antes, eram formigueiros humanos – como Nova Iorque, Pequim, São Paulo ou qualquer cidade indiana – sem vivalma nas ruas.

O Rio de Janeiro conta com mais de quatro mil áreas verdes , revelam dados da Fundação Parques e Jardins.

São três mil praças e parques urbanos e todos carecem, especialmente, de cuidados físicos, além de novas ações de planejamento. Para tanto, urge um profundo processo de discussão sobre uma nova legislação urbanística.

Esses oásis em meio às cidades precisam se tornar cada vez mais inclusivos para todos. Idosos, crianças, deficientes físicos, famílias, mulheres e , até mesmo, animais domésticos.

Entendo que, após a pandemia, a sociedade brasileira vai emergir. As praças e áreas verdes simbolizam a liberdade. O lazer deverá ser seguro. Os parques, quando acabar o isolamento, deverão ser higienizados e tratados com carinho pelo poder público.

É um desafio. Mas, se houver planejamento e vontade política, dará certo.
*Everton Gomes é cientista político, vice-presidente da Fundação Leonel Brizola e porta-voz do Rio Boa Praça