Cristiane Vianna Amaral - Divulgação
Cristiane Vianna AmaralDivulgação
Por Cristiane Vianna Amaral*
Nestes tempos de isolamento social, temos sido inundados por mensagens que nos dizem como sobreviver. Os conteúdos vão desde fórmulas para aumentar a produtividade até o extremo oposto: é hora de parar tudo e somente respirar.

Se num país marcado por um profundo poço de desigualdades ficar em casa pode parecer um privilégio, para quem está vivenciando a situação, a clausura pode parecer um pesadelo. Angústia, melancolia, tristeza, ansiedade, desânimo, entre outros sentimentos tão comuns no cotidiano, tomam uma proporção muito maior quando os dias parecem iguais.

No entanto, muitas pessoas têm relatado que estão sonhando mais. Ou pelo menos, sem a afobação causada por ter que se preparar para o deslocamento até o trabalho, estão lembrando-se mais. E qual não é a surpresa, ao relatarem suas histórias noturnas, de que estão aparecendo nos sonhos dos amigos, parentes e até de conhecidos, mostrando uma profunda conexão coletiva. O mundo onírico é misterioso e um dos mais aclamados cientistas brasileiros, Sidarta Ribeiro, tenta decifrar esse enigma no livro O oráculo da noite.

Sidarta nos lembra que sonho pode ser sinônimo de desejo. Quem queremos ser quando o isolamento acabar? Ansiamos realmente que o planeta volte ao seu antigo normal? Qual mundo deve ser construído daqui para frente? Essas perguntas podem ser uma boa companhia nos dias de hoje.

Para o criador da teoria do inconsciente coletivo, Carl Jung, os sonhos são educativos, ferramentas para o autoconhecimento, ensinando a lidar com os sentimentos e até mesmo com traumas. Teriam até uma função premonitória. Nesse sentido, para os mais céticos, podem ser vistos como um estudo de probabilidades, uma espécie de previsão do tempo.

Cuidado com as promessas da Internet de decifrar os símbolos que aparecem durante o sono. Se cada sonhador é único, os significados também são subjetivos. Quem quiser mergulhar mais fundo neste universo, pode procurar um terapeuta. Esses profissionais tiveram que se reinventar e praticamente todos agora realizam atendimento online.

E para quem não lembra dos sonhos? Entra em cena a imaginação. Pode ser reavivada numa prática tão comum entre as crianças como olhar as nuvens e inventar histórias ou simplesmente ao colocar uma música e deixar a mente ir para onde ela quiser.

Importante dizer que sonhar não é fugir da realidade. Tudo indica que novos períodos de confinamento virão. Precisamos sonhar, no sentido de planejar, o que iremos colocar em nossa Arca de Noé quando o próximo dilúvio chegar.

Nesta aparente monotonia, sonhar é fundamental. Um convite para que os muitos personagens habitantes do nosso mundo interno nos tirem do isolamento: amores, familiares, amigos, colegas de trabalho. Antigas paixões, famosos, animais, deuses, monstros e até mesmo objetos, que podem ganhar vida. Nesse universo onírico, não é necessário lavar as mãos. Abra a porta e deixe as visitas entrarem.

*Cristiane Vianna Amaral é jornalista e aluna do Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa