Pâmella Passos - Divulgação
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Por Pâmella Passos*
Nas últimas semanas em casa, cumprindo a quarentena, tenho acompanhado o drama de vários colegas, assim como eu professores, que nesse último período passaram a ter que produzir conteúdos para plataformas digitais, chamados de Educação à Distância (EAD). Erroneamente, pois EAD é uma modalidade de Ensino com inúmeras preocupações e etapas que não podem ser atropeladas como tem acontecido.

Pois bem, esses professores tiveram que virar youtubers e desenvolver habilidades tecnológicas compatíveis com as novas demandas de seus empregadores. Soma-se a esse fator a preocupação com o que será feito de suas imagens. É preciso lembrar que em tempos de perseguição aos professores feita por setores conservadores, como o movimento “Escola Sem Partido”, esta preocupação não é à toa.

Pressionados e expostos, professoras e professores seguem fazendo a tarefa a eles imposta. Mesmo sabendo que no meio de uma pandemia, a preocupação não deveria ser conteúdo. Mas eles também sabem há tempo que a sociedade anda doente e que recai na escola o peso de um mundo onde as famílias por muitas questões não dão conta de estarem com seus filhos e, durante esta quarentena, não seria diferente.

Mas quero aqui dialogar com esses colegas que estão sendo pressionados a “produzir aulas virtuais”. Recentemente assisti dois vídeos que me mobilizaram bastante. O primeiro de uma professora que aparentava ter mais de 50 anos, ensinando como fazer um coelhinho de papel. Nos olhos dessa professora eu vi cansaço, eu vi desconforto com essa linguagem. Esse vídeo, apesar de agradar a uma criança de 6 anos, minha filha gostou e fizemos o tal coelhinho, me entristeceu. Doeu ver uma profissional naquela situação. Mas instantes depois, assisti outro vídeo que me levou as lágrimas de tanto rir. Este era uma montagem com uma espécie de erros de gravação de diversas professoras. Elas riam da situação, eu ri, nós rimos juntas desse absurdo que estamos vivenciando.

Imediatamente lembrei-me do curso introdutório sobre palhaçaria onde a mestre Karla Concá nos disse que a palhaçaria trabalha o compartilhamento do fracasso. E sim, tem uma dimensão de fracasso em toda essa situação. Um fracasso sobre o que as famílias e a sociedade pensam sobre Educação. Mas que tal compartilharmos esse fracasso? Rir dessa situação absurda. O convite não é a uma alienação, ao contrário, mas a uma plena consciência do ridículo que estamos vivenciando e assim fazermos do riso, nosso e dos outros, uma linha de fuga, uma sobrevivência nesses tempos de tristeza. Amigas e amigos professores, riam da situação, compartilhem seus fracassos e angústias com pessoas de confiança, não se culpem, não se frustrem. Somos educadores, sabemos, e não serão aqueles que de educação nada entendem, que irão nos definir.
*Pâmella Passos é professora da rede pública desde 2006, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Tecnologia, Educação e Cultura e aprendiz de palhaça