Opina 01 junho - Arte Paulo Márcio
Opina 01 junhoArte Paulo Márcio
Por Aristóteles Drummond*
Além do drama da pandemia, que enluta milhares de famílias pelo Brasil, e preocupa a todos, temos tido outros tipos de problemas, estes absolutamente desnecessários.

A sociedade parece ter segmentos doentes, afetados pela pandemia no comportamento. Exemplo são aqueles que insistem em negar a dimensão das mortes registradas, que seriam de outras moléstias que não a Covid-19. Dados falsos não teriam proveito algum, muito menos não se pode admitir que, durante dois meses, o Ministério da Saúde não tenha detectado falhas maiores – erros sempre existem – que exigiriam ação da PF, do MP, federal e dos estados, a mídia sempre atenta teria denunciado. No mais, a fraude teria de ser internacional, pois diariamente morrem milhares de pessoas ao redor do mundo. Outro absurdo é negar a gravidade de quase 30 mil vidas perdidas, comparando com a nossa população. Neste ponto, então, estamos em situação vergonhosa, pois temos muito mais casos do que China, Índia, Paquistão, Indonésia e Nigéria, países com população superior ou semelhante à nossa. E mesmo que fossem duas mil, e não 30 mil, já seriam de se lamentar e preocupar muito.

Os estados e municípios, em sua maioria, estão muito lentos na apuração de chocantes casos de corrupção. Falta transparência nas compras e contratações com as verbas repassadas pelo Governo Federal. O Judiciário, que anda palpitando tanto, tem se omitido diante desta roubalheira.

O Governo Federal entra nessa confusão que tem sido a vida dos brasileiros, acrescentando a crise sanitária, a política e com agravantes na economia, num suceder de crises absolutamente desnecessárias. Deixasse o ex-ministro falando sozinho, este já estaria fora do noticiário e não existiria vídeo para causar tanta confusão.

Parece incontestável que, hoje, temos um governo que não rouba e não deixa roubar. Mesmo que venha a fazer nomeações de cunho político, certamente não vai afrouxar a vigilância e quem prevaricar vai cair. Não se pode prejulgar. Também existe um núcleo de ministros de reconhecida excelência, a começar pelo comando da economia, das estatais, na agricultura, na infraestrutura, nas minas e energia e na presença de oficiais generais de carreira ilibada no Palácio do Planalto. Na pandemia, foi rápido em socorrer os menos favorecidos, as empresas, estados e municípios.

Mas este mesmo governo gera crises, dá munição diária a críticos implacáveis. Demite dois ministros da Saúde, ambos respeitados, provocando desgaste por uma questão menor, mas polêmica até hoje. Depois abre uma tempestade pela importunidade da demissão do ministro da Justiça, referência do governo, também por questão que poderia ser contornada ou adiada. O ministro Moro saiu mal, mas virou ex e o presidente fica e sofre as consequências. Os frequentes desabafos presidenciais, até com fundo de razão, são altamente prejudiciais por provocarem polêmicas e desentendimentos entre poderes e em termos inadequados. Podia ter comparecido a uma ou outra manifestação, mas fazer delas parte de sua agenda foge à liturgia que o cargo exige.

Esta bipolaridade do Planalto não prejudica apenas o governo e o presidente, cuja popularidade cai a olhos vistos e sem entrar no mérito das diferenças pesquisas. Nota-se, neste quadro, que não é bom também para o país, para a economia, para o bom combate pandemia. E nossa imagem lá fora.

É preciso baixar a bola, para usar uma expressão popular.

*Aristóteles Drummond é jornalista