Babalawô Ivanir dos Santos - Divulgação
Babalawô Ivanir dos SantosDivulgação
Por Ivanir dos Santos*
Vivemos em uma sociedade dividida por vários "apartheid" sociais definidos por raça, gênero e trabalho. Desigualdades históricas que são evidenciadas em períodos de grandes catástrofes sociais, tais como as que estamos presenciando com proliferação e avanço dos casos de contaminação de Covid-19 no país e no mundo. Uma brevíssima imersão sobre os últimos dados estatísticos, após as medidas de contenção do avanço da contaminação, nos permite ver e compreender que serão os moradores das comunidades periféricas e as favelas do Brasil os mais atingidos pelos reflexões de recessões sociais e econômicas.

A realidade é que não somos todos iguais e não recebemos os mesmo tratamento. Isso é mais que afirmação dentro da sociedade, principalmente diante das realidades vem sendo escancarada cotidianamente com o avanço da pandemia. Realidade, que apesar de lastimável, pode levar até os mais céticos, que ainda acreditam que vivemos em um país democrático fruto de uma igualdade social, econômica e racial, a enxergar que para grande parte da sociedade marginalizada em comunidades e favelas brasileiras o mínimo não ajudará a suprir todas as necessidades para a sobrevivência.
Segundo os dados do Data Favela publicados: "Em uma semana dentro de casa, em quarentena contra a pandemia do novo coronavírus e sem renda, já é o tempo suficiente para 72% dos moradores de favela no Brasil não conseguirem manter o baixo padrão de vida por não terem nenhum tipo de poupança". A pesquisa ainda aponta que 32% dos moradores de favela, população composta por 13,6 milhões de pessoas, em grande maioria homens e mulheres negros, terão dificuldades na compra de itens básico, como alimentos. Os dados são ainda mais incisivos ao demonstrar que 55% dos trabalhadores que vivem nas favelas brasileiras são autônomos e/ou trabalham na informalidade.
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E é diante de tantas incertezas que diariamente acompanhamos o crescimento e o desperta das praticas solidarias cotidianas dentro das comunidades e favelas. Praticas essas que não são incomuns para boa parte dos moradores que vem forjando os seus futuros diante de um presente social repleto de omissões e ausências do poder publico. Diante das atuais circunstancias é necessário voltarmos nossa atenção, com intervenções e ações concretas, junto aos moradores das favelas e comunidades periféricas, com o intuito de impedir que mais uma catástrofe se materialize.
*Ivanir dos Santos é Babalawô, professor e doutor (PPGHC/UFRJ, CEAP, CCIR)