Pâmela Souza - Divulgação
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Por Pâmela Souza*
Com a pandemia que estamos atravessando, por conta da Covid-19, amplia-se a compreensão sobre a importância e o papel da escola na vida dos estudantes. A consciência de que esse espaço não se resume ao local de aprender artes, matemática ou português mas é, antes disso, o lugar da troca, da proteção e da expressão de muitas crianças e jovens.

Não podemos esquecer que o processo de ensino e aprendizagem no espaço da escola acontece no contato e encontro com o outro, na troca entre educadores, estudantes, famílias e comunidades. São múltiplas combinações de escuta e aprendizado entre esses atores, todos imprescindíveis para a garantia do direito à educação.

E como é possível realizar essa troca à distância, quando o acesso à internet de qualidade ainda é quase nulo entre os alunos e suas famílias?

Muitos problemas estruturais que sempre rondaram uma cidade complexa como o Rio de Janeiro continuam presentes, e, agora, de maneira mais latente.

Nós, educadoras e educadores, com certeza precisamos falar sobre o coronavírus e como esta doença tem afetado, principalmente, as periferias e favelas. Mas como podemos iniciar essa conversa sem, antes, entender em que condições estão as comunidades e famílias de nossos alunos?

A educação — mesmo nas condições difíceis da quarentena — poderia e deveria dialogar mais com a realidade e ajudar a responder às diversas perguntas que podem estar rondando as cabeças de crianças e jovens e também as nossas.

Mas para que isso realmente aconteça, é fundamental que nós — educadoras e educadores — estejamos de algum modo próximos às comunidades do entorno das escolas.

No entanto, mesmo em um cenário considerado “comum”, a contribuição que o corpo coletivo poderia dar as unidades escolares muitas vezes não é levada em consideração. A atuação conjunta tornaria menos difícil a resolução de problemas, como os trazidos pela pandemia, porque abre espaço para pensamentos e diálogos sobre toda a complexidade dos atores em questão e, consequentemente, chegaríamos a soluções mais conectadas com as diversas realidades das crianças e adolescentes, suas famílias, professores e territórios.

Para além de pensarmos o fato de nossas alunas e alunos terem boa internet ou não, por exemplo, é preciso considerar quantas de nossas crianças estão conseguindo se alimentar ou passar com segurança por esta pandemia.

Por isso, neste momento tão peculiar e difícil, precisamos pensar e elaborar como podemos nos aproximar ainda mais dos territórios onde exercemos nossas atividades, para que as camadas de complexidade presentes em nossa cidade também estejam presentes em nossos conteúdos e modos de atuação cotidianamente.

*Pâmela Souza é professora de artes da rede municipal no Rio de Janeiro (RJ) e doutoranda em Educação pela UERJ. Foi a educadora orientadora do projeto Solta esse Black, um dos premiados do Desafio Criativos da Escola de 2016