Publicado 15/06/2020 03:00
Em uma loja a caixa de som anuncia: “Você quer que seu filho estude numa escola ideológica com professores doutrinadores ou numa escola que prepare para o mercado?”
Boquiabertas, nos entre olhamos e saímos da loja. O anúncio gerou um incômodo em nós, professoras, da rede pública e privada, por sabermos que ele ajuda a construir uma imagem do chamado “professor doutrinador”. Que ele esconde atrás de uma frase, a preparação para o mercado de trabalho, o ataque a uma educação que proporciona uma formação não só para o trabalho, mas que estimula o afeto entre as pessoas, que ensina a questionar.
Propomos aqui um exercício de imaginação. Pensem conosco, Tereza chega atrasada na aula e perde a apresentação do trabalho. Explica ao professor porque se atrasou, uma operação policial onde mora. Outros alunos escutam e se identificam. Esse professor pode “seguir com a matéria” ou parar e conversar sobre o assunto. No primeiro caso, ele diz implicitamente, que é preciso aceitar esse tipo de episódio. Já no segundo caso, ao debater ele abre caminhos para pensarem se esta é a única realidade possível.
Este exercício nos ajuda a refletir sobre a diferença entre uma educação questionadora, representada na aula em que se fala sobre as operações policiais em favelas, e aquela que se diz neutra, que busca a aceitação das condições atuais, trazida na aula que ignora a situação da aluna. Nossa historinha também nos permite identificar quem seria esse suposto “professor doutrinador”. O profissional que “foge do conteúdo para dar sua opinião”.
Se fugir do conteúdo significa se importar com a vida dos seus filhos, como eles vivem, que futuro podem experimentar. Sim fazemos isso. E sabemos que estes ataques que estamos sofrendo tem relação com o fato de que nas últimas duas décadas em nosso país, vários filhos e filhas de famílias trabalhadoras puderam se perguntar: é possível não ser pedreiro igual meu pai ou diarista igual minha mãe? Podemos, nossa família, estar em outros lugares nesse país?
Então, você pai e mãe trabalhador, que batalha para garantir o sustento do seu filho, que pega transporte público lotado, que não consegue atendimento hospitalar, o que você quer dizer ao seu filho? Que a escola deve ignorar o cotidiano deles? Que um aluno pode ser assassinado em um dia e seguir o tão importante conteúdo no outro, pois o que importa é que estão sendo preparados para o mercado de trabalho?
Ou que desejam uma escola e professores que preparam para vida, ou ainda, que é a própria vida, que estimula perguntas, questiona e que compreende que os conteúdos curriculares também estão no mundo e em nosso cotidiano? É preciso apoiar os que vêm enfrentando corajosamente os que não se importam com vidas e sim cifras, estes sim os verdadeiros doutrinadores. Por isso, toda família deveria se perguntar: Quem são os professores doutrinadores? E que professores querem para os seus filhos?
Boquiabertas, nos entre olhamos e saímos da loja. O anúncio gerou um incômodo em nós, professoras, da rede pública e privada, por sabermos que ele ajuda a construir uma imagem do chamado “professor doutrinador”. Que ele esconde atrás de uma frase, a preparação para o mercado de trabalho, o ataque a uma educação que proporciona uma formação não só para o trabalho, mas que estimula o afeto entre as pessoas, que ensina a questionar.
Propomos aqui um exercício de imaginação. Pensem conosco, Tereza chega atrasada na aula e perde a apresentação do trabalho. Explica ao professor porque se atrasou, uma operação policial onde mora. Outros alunos escutam e se identificam. Esse professor pode “seguir com a matéria” ou parar e conversar sobre o assunto. No primeiro caso, ele diz implicitamente, que é preciso aceitar esse tipo de episódio. Já no segundo caso, ao debater ele abre caminhos para pensarem se esta é a única realidade possível.
Este exercício nos ajuda a refletir sobre a diferença entre uma educação questionadora, representada na aula em que se fala sobre as operações policiais em favelas, e aquela que se diz neutra, que busca a aceitação das condições atuais, trazida na aula que ignora a situação da aluna. Nossa historinha também nos permite identificar quem seria esse suposto “professor doutrinador”. O profissional que “foge do conteúdo para dar sua opinião”.
Se fugir do conteúdo significa se importar com a vida dos seus filhos, como eles vivem, que futuro podem experimentar. Sim fazemos isso. E sabemos que estes ataques que estamos sofrendo tem relação com o fato de que nas últimas duas décadas em nosso país, vários filhos e filhas de famílias trabalhadoras puderam se perguntar: é possível não ser pedreiro igual meu pai ou diarista igual minha mãe? Podemos, nossa família, estar em outros lugares nesse país?
Então, você pai e mãe trabalhador, que batalha para garantir o sustento do seu filho, que pega transporte público lotado, que não consegue atendimento hospitalar, o que você quer dizer ao seu filho? Que a escola deve ignorar o cotidiano deles? Que um aluno pode ser assassinado em um dia e seguir o tão importante conteúdo no outro, pois o que importa é que estão sendo preparados para o mercado de trabalho?
Ou que desejam uma escola e professores que preparam para vida, ou ainda, que é a própria vida, que estimula perguntas, questiona e que compreende que os conteúdos curriculares também estão no mundo e em nosso cotidiano? É preciso apoiar os que vêm enfrentando corajosamente os que não se importam com vidas e sim cifras, estes sim os verdadeiros doutrinadores. Por isso, toda família deveria se perguntar: Quem são os professores doutrinadores? E que professores querem para os seus filhos?
*Amanda Mendonça é doutora em política social, professora de sociologia e pesquisadora do Observatório da Laicidade da Educação
**Pâmella Passos é professora da rede pública desde 2006, pesquisadora do Grupo de Pesquisas em Tecnologia, Educação e Cultura e aprendiz de palhaça
Comentários