As engenheiras continuam superando todos os obstáculos, desde a formação profissional, passando pelo estágio, pela experiência nos canteiros de obras, onde a maioria é de homens, e até hoje, no Século 21, num mercado de trabalho que ainda restringe oportunidades para as mulheres. Prova disso é que, no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro, são 25.000 mulheres registradas, em um universo de 130.000 profissionais. Embora o CREA-RJ seja o pioneiro no Brasil, fundado em 1934, em toda a sua história nunca teve uma presidente mulher.
Mas de que forma a pandemia vai afetar ainda mais a vida das mulheres? Pesquisas mundiais vêm mostrando como as mulheres muito têm sofrido durante a pandemia e revelam que o alto índice de violência contra elas, não para de crescer. As mulheres profissionalizadas estão sofrendo mais que os homens profissionalizados.A velha divisão social do trabalho, ou seja, o acúmulo dos cuidados com a casa e os filhos, onde as mulheres é que dão mais, permanece na pandemia.
A pandemia escancarou a desigualdade de gênero no Brasil. As mulheres de baixa renda são as maiores vítimas. Existem mulheres que vivem em casas e outras, em lares. Na ideia de casa, noção de moradia, que é o lugar onde se repousa durante a noite e que a vida social é feita fora dela. E o lar é a visão romântica construída a partir do final do Século 18, uma ideia burguesa, formada por famílias felizes, como nos comerciais de margarina, mas não é uma realidade para todas.
As mulheres estarão assumindo um protagonismo muito grande, nos tempos pós pandemia. A sororidade que nos é necessária, nos faz imprimir o “dar as mãos”. Quem se elevar deve alçar ao alto aquela que precisa. Ninguém solta a mão de ninguém.
*Iara Nagle é engenheira Civil, presidente licenciada da ABEA (Associação Brasileira de Engenheiras e Arquitetas) e membro vitalício do Conselho Diretor do Clube de Engenharia