Júlio Furtado, colunista do DIA - Divulgação
Júlio Furtado, colunista do DIADivulgação
Por Júlio Furtado*
Já se vão meio ano de pandemia e o mundo já começa a expressar um misto de impaciência, medo e expectativa. Esse estado emocional as vezes se manifesta através de atitudes arriscadas como não usar máscaras, fazer festas ou ir a bares como se tudo já tivesse passado. Em meio a esse agonizante momento, a volta às aulas presenciais surge como mais um dilema a ser resolvido. Por um lado, pais e filhos estressados alternam-se entre a vontade de voltar para uma escola física onde seus papéis podem ser corretamente exercidos e o medo da contaminação. Por outro, gestores e professores transitam entre a vontade de voltar e o receio das consequências.

A dúvida que não quer calar é se o ano letivo de 2020 está perdido ou se ainda há como recuperá-lo. Nesse sentido, o Conselho Nacional de Educação – CNE responde através de Pareceres que em 2020 não deve haver reprovações e recomenda que as escolas implantem o ciclo emergencial 2020/2021, uma espécie de período letivo ampliado que engloba duas séries: a que o aluno está cursando em 2020 e a que ele cursará em 2021. Entre esses anos não haverá reprovação e até o final de 2021, os alunos estudarão o equivalente aos principais conteúdos das duas séries do ciclo emergencial.

É nesse contexto que as coisas precisam ser entendidas. Isso não significa aprovar o aluno mesmo sem base, mas sim oferecer a chance que ele aprenda de forma mais justa e equânime. O professor terá mais tempo de planejar a forma como eles irão desenvolver as principais habilidades e competências das séries que cursarão nesse biênio e garantir uma aprendizagem mais efetiva. Diante de emergências, precisamos garantir o que é essencial. Essa regra é básica diante da necessidade de sobrevivermos.

Para que isso ocorra, porém, precisamos entender a avaliação como um processo que favorece a aprendizagem e não apenas como um teste para ver quem aprendeu que acaba punindo aqueles que não conseguiram aprender. Avaliação deve ser usada para ajudar a aprender e não para castigar, para repensarmos a forma de ensinar e não apenas para lançarmos notas. Essa escola pós-pandemia somente sobreviverá através de uma avaliação que acompanha a aprendizagem. Avaliar apenas para notas e com isso aprovar ou reprovar perde o sentido nesse momento. Que bom!

Estamos diante de um momento em que a escola tem que se voltar para seu principal objetivo que é fazer com que os alunos aprendam e, para isso, vai precisar se questionar através do reconhecimento do que não funciona mais (ou, quem sabe, do que nunca funcionou). A forma de avaliar a aprendizagem é um processo que tem o poder de transformar as ações da escola no sentido de fazê-las mais focadas na aprendizagem do aluno, no questionamento do porquê alguns não aprendem e nas possibilidades de ensinar de outras maneiras. É nesse sentido que atribuímos à avaliação o poder transformador não somente da escola, mas de todo processo, incluindo os subjetivos. É por isso que afirmamos que só a avaliação pode salvar a escola!
*Júlio Furtado é professor e escritor